sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Dez Balas de Morango

Acabei de voltar da cozinha. Lá, por aquelas terras habitadas por formigas silenciosas e doces escondidos, encontrei algumas balinhas de “Morango Cítrico”. Em meio a toda maravilha agridoce recém desembalada que minha boca já saboreava, lembrei de você. Lembrei que devia passar o adocicado que me mostraste, para minhas palavras de chocolate branco derretido.
Dos muitos mistérios da vida que moram entre “a razão do viver” e o “depois de morrer”, existe minha curiosidade quanto a tua pessoa: Quem seria essa doce-moça-boba dos cabelos da cor do sol? Essa dos olhos arqueados como um horizonte que se curva para beijar o nascer da lua, mas que, ainda assim, apenas tenho um olhar vislumbrado por meio de fotografias de facebook – fotos que mostram sorrisos que falam mais do que qualquer palavra trocada ou cruzada, diga-se de passagem -?
As viajosidades poéticas sobre o amor e paçoquinha com brigadeiro (não seria “amor” e “paçoquinha com brigadeiro” a mesma coisa?) mostram a loucura de uma flor do campo que tem uma morada no nome, um “Lar”, onde os beija-flores buscam, de maneira dulcíssima, a calma para uma conversa às duas da madruga boladona. Na despedida, voam beijos imaginários mais doces que qualquer doce que se possa encontrar no fim de um arco-íris de algodão-doce. No fim, palavras voltam a ser só palavras, e eu e você voltamos a ser só dois avatares coloridos.
Ao fim deste malogro textual, foi consumido um total de 10 (Dez) balinhas de morango. Mas, convenhamos, ainda há muitos doces a se provar!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Deus está mais gordo

Por diversas vezes já acordei antes do despertador tocar, sob o silêncio imaculado da falta de obrigação e fiquei a imaginar todas as pessoas que gostaria de abraçar. Um daqueles abraços que nos fazem perder um pouco de nós e ganhar um pouco do outro. Um daqueles abraços que deixa marca, que tira pedaço. Mas o dia segue, os compromissos chegam e eu aprendo novamente a dizer "oi" sem sentimentos, a desejar bom dia e a repetir aquele sorriso mecânico.
Ultimamente meus sinceros "bom dia" são apenas para os motoristas de ônibus.
Acho que há algo de secreto nos abraços. Algo de místico nos beijos. Não sei explicar porque, mas todos concordam que estes não se resumem a meros toques de pele. Os abraços, penso eu, surgiram na necessidade de troca de calor. E ao longo dos tempo, ao invés de salvar do frio, ele passou a salvar da solidão. Mas o beijo não faz sentido. Talvez o compartilhamento de bactérias nos deixe mais forte, não sei. Talvez tenha algo a ver com uma parte não física do nosso corpo.
Em muitos casos de exorcismos, por exemplo, os possuídos vomitam, ou expelem outros tipos de substância pela boca ao serem limpos. Mas não consigo ligar uma coisa a outra. Talvez o beijo seja algum tipo de exorcismo. Exorcismo da solidão. Exorcismo desse sentimento que fica martelando no nosso incosciente que a vida é difícil, que as semanas têm sido repletas de agonia pelo simples fato de estar vivo e não entender muito bem o mundo ao redor.
Sexo deve ser algo do gênero, mas minhas experiências sexuais ainda não comprovam muita coisa. Acho que o sexo tem algo inconsciente que se relaciona com a importância da vida, da reprodução da espécie, daquela frase que Deus disse: "Crescei-vos e multiplicai-vos".
Será que Deus imaginava que a gente fosse se multiplicar e crescer do jeito que estamos fazendo? Será que ele imaginava por exemplo que a gente iria criar a seringa? Por mais que ele seja o todopoderoso, acho improvável ele ter imaginado tudo.
E se ele não tiver imaginado tudo, será que ele não mudou de opinião quanto à ordem que dizia pra gente  se multiplicar? Faz tempo que Deus não fala nada. E mesmo que ele tentasse falar com a gente, só mesmo abrindo os céus e dizendo "Prestem atenção, seus porras!", até porque o mundo tá cheio de cara dizendo que fala com Deus e que Jesus mandou umas mensagens e ninguém dá atenção pra essa galera.
No mínimo, acho que se Deus aparacesse, ele não seria o mesmo Deus que a gente conhece. Sabe quando a gente não vê alguém há uns tempos e quando vê ela sempre tá mais gorda ou com o cabelo diferente?
Definitivamente, acho que Deus deve estar psicologicamente mais gordo, ou pscologicamente com o cabelo diferente.
Mas se ele aparecesse e fizesse uma paletra, eu iria. E se no final ele abrisse um espaço para perguntas, eu já teria dois questionamentos prépalestra.

1) Disserte sobre beijos, abraços e sexo. Relacionando este último com a frase anteriormente dita por você. "Crecei-vos e multiplicai-vos"

2) Onde eu recebo meu certificado de que participei dessa palestra? Sabe como é, meu curso precisa de horas complementares...

Espero ansiosamente o apocalipse. Vai explicar um monte de coisa.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Democracia autoritária


Em puro estopim do cenário eleitoral no país, em que todo mundo é pleno entendedor das questões politicas no brasil, exílio-me como observadora. Redes sociais a cada segundo são bombardeadas por opiniões/posições/oposições e egos intelectuais que, apenas se mostram - como os políticos- em quatro e quatro anos. Pura coincidência! É uma intolerância à opinião alheia sem proporção, ressaltando aos nordestinos, diga-se de passagem. E sabe o mais cômico? Os mesmos nordestinos que são vitimas da tal intolerância, disseminam a mesma com seus conterrâneos por terem uma visão diferente da grande maioria. Gargalhadas? Segurem os forninhos, 'giovanas'.


Nada mais intolerante do que uma "democracia jovem", como a nossa. Após 21 anos de ditadura, ainda transparecemos pouco capazes de respeitar a opinião alheia, sem julgamentos, sem desmoralização. É uma infantilização aguda, birra de divergências. Como citei em um artigo passado, é uma afetação em querer ter razão, como dizia Camus: "a obsessão em ter razão é a marca suprema de uma inteligência grosseira".


Não quero dizer, caro leitor, que politica não possa ser discutida, debatida, argumentada ... oras, afinal, é uma liberdade de expressão que é um direito totalmente garantido por lei, e sim, é um exercício a cidadania. O fio da meada, é como pode ser propagado sem interferir a liberdade do outro. Um exemplo claro disso é a imposição de pensamento que aconteceu no debate da record  pelo candidato Levy Fidelix - partido renovador trabalhista brasileiro - que ganhou repercussão por defender de forma grosseira sua aversão as causas homoafetivas e tudo que a engloba. Típica "picuinha' da bancada conservadora que adora "se meter na vida alheia e enfiar suas verdades goela abaixo". Uma tragédia!

Militantes de todo o brasil que, constantemente defendem causas do tipo, parecem sofrer de uma Alzheimer temporária quando a questão é diretamente ligada com sua posição politica. Uma contradição pouco percebida aos eufóricos cidadãos conscientes. Liberdade, igualdade, igualdade, ops, igualdade. Hmm ...  Estaria, então, todo o sentido de democracia perdido em meio ao achismo ditatorial das opiniões (?) Tantas questões ...



Dilma, Aécio. Bolsa Família. Economia. Mensalão. Privataria Tucana.
As opções foram lançadas e as tendências disseminadas ... 'Se é pra errar, prefiro errar "diferente".




Entre aspas.
*risos*



































domingo, 5 de outubro de 2014

A Arte da Guerra - Sun Tzu

Disseram-me que esse livro seria uma afronta egoísta ao bem estar humano como um todo, que ele me faria ver a vida como uma guerra e que isso não era bom. Mas o ser humano é engraçado e o cérebro humano terrivelmente medonho.
Para mim é impressionante como cada um de nós temos visões individuais sobre as coisas. Sobre como cada um de nós temos um olhar apurado para certas inclinações que os fatos, obras e acasos podem tomar ao nosso redor. Isso é fascinante e ao mesmo tempo imperceptível aos olhos da maioria. Somos cegos todos os dias pelo fato de procurarmos um bem maior, uma vida em harmonia e uma boa convivência. A gente perde um pouco de nossa natureza ao negarmos nossos instintos. Não sei exatamente se isso é bom ou ruim, mas sei que isso acontece. E não é pouco.
A arte da guerra é um tratado escrito por Sun Tzu em forma de notas de alguma espécie de diário de bordo, divididas em capítulos que tratam de temas específicos, mas todos voltados para a temática da guerra. Ao longo dos séculos, foi tido como leitura obrigatória para generais de exércitos estrategistas e por entusiastas de movimentos políticos revolucionários. Mas em algum momento, alguém presumiu que poderia funcionar como metáfora. E lá vamos nós...
A arte da guerra passou a ser não mais um tratado técnico e de grande valor de cunho militar, mas um guia forçado e cabal de Administração empresarial e marketing. E só se entende o porque quando se questiona para onde foram as guerras no nosso saudoso século vinteum.
Mas isso não necessariamente vem ao caso. De mimimi capitalista/comunista a internet tá cheia. Meu propósito é só registrar algumas ideias que tive enquanto lia a obra.
O que é uma guerra se não pelo menos um par de moças trocando puxões de cabelo?
A vida não é necessariamente uma guerra. Muitos dos preceitos que ele fala no livro são baseados no inimigo. Como vou, por exemplo, espionar meus inimigos ou forçar ele a fazer algo que me leve a uma conquista maior se o meu inimigo é a vida?
Não. Por mais que meu pessimismo seja grandioso e válido em muitos dos momentos, eu não posso ser pragmaticamente prático e dizer que a vida é uma guerra. Mas também não posso negar que ela é uma trincheira. Guerras são feitas com trincheiras. E eu mais uma vez começo a construção de uma metáfora. Uma destruição de uma, talvez. 
Volto a perambular por aqueles velhos questionamentos dos filósofos eternos: o que é tudo isso? 
E sem respostas, me resigno apenas a anular o fato de que a vida é uma guerra. E tentar esquecer que talvez ela seja uma trincheira.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Texto Invisível do João: "A única pessoa que amei"

"Foi muito estranho quando eu abri os olhos. Era um campo vastíssimo com gramíneas esverdeadas como a cor daquele sorvete que nunca provei. Não sabia o que estava fazendo por ali; nem sabia que lugar era aquele.

Foi quando o vi. A única pessoa que amei na vida. Estava irreconhecível, com o cabelo enorme, tipo o do Jimmy Hendrix, o rosto era apenas um borrão na minha memória e tinha um aspecto sereno que nunca tinha visto nele antes. Não lembro de muita coisa, fiquei muito nervoso; só lembro que ele me disse que não era bom estar vivo e, então, estendeu seu dedo indicador, apontou pra algum lugar. Falou: "- É ali que a sua mãe dorme".

Era pesado, era difícil olhar pra ele de novo depois de tanto tempo, tinha tanta novidade pra contar, tanta saudade pra matar...

Quando criei coragem para falar algo, o fortíssimo vento da vida real soprou minha lembrança vaga como se fosse uma escultura de areia. Minhas lágrimas molhavam meu travesseiro, porque desciam incessantemente ao lembrar que eu devia ter dito que o amava antes que aquela lâmina fizesse seu sulco em seus pulsos morenos. Mas agora é bastante tarde. Eu só quero fugir de vocês, colocar meus fones, dar play novamente em Stairway to Heaven, voltar pra minha ca(l)ma e dormir."

sábado, 9 de agosto de 2014

senta o dedo

7 de setembro de mil novecentos e noventa e seis.
tupac amaru shakur morria. dois meses depois eu vinha ao mundo, besuntado em líquidos uterinos e placentários. onde eu estou hoje? onde tupac está?
duas perguntas sem resposta. mas enquanto o brasil preparava seus desfiles de independência, glorificados pelos cavalos e seus cocôs, tupac vivia suas últimas horas. não sei se de forma tão poética quanto imagino, pois não entendo de fusos e nem sei direito o que é gmt. mas ainda assim, nada faz sentido. tudo que ele viveu, pensou e maquinou para que desse certo foi levado embora naquela noite de setembro. pelo misticismo, temos virgens e libras em setembro. pela minha consciência quase nula neste mundo, não temos muita coisa a não ser a nossa própria cabeça, corpo e ideias.
dezoito anos na cara. escrevendo com letras minúsculas como um ato de desespero em busca de uma identidade. "João, aquele cara que escrevia com letras minúsculas". "mas sempre que ele escrevia o nome dele, era com letras maiúsculas. talvez isso demonstre um fio da psycho dele que se achava superior ao mundo por n motivos" "não sei. talvez. tinha o fato de ele quase sempre escrever data e números por extenso" "talvez demonstre uma aversão à quantificação das coisas, talvez uma crítica à nossa sociedade construída sob números e suas manipulações" "vai ver era só o jeito dele, sem nenhuma mensagem por trás de tudo aquilo ou qualquer tipo de ideologia maior. vai ver ele só queria fazer as coisas do jeito dele pra se sentir um pouco mais livre do peso que o mundo tem" "dizem que ele gostou de uma mulher uma vez" "não sei".
então desolados, olham pela janela e pensam no meu rosto.
o que faria tupac shakur no meu lugar?
vínculado à minha realidade, acho que ele seria só mais um. acho que todo mundo necessita dos cavalos de tróia e das agonias que possuem. porque talvez o sentido da vida seja apenas ser um ponto único que é epicentro de tudo que não existe.

domingo, 3 de agosto de 2014

Refúgio


mesclas de sentimentos podem desatar como embaraçar misteriosos "nós" na garganta, nó que desencadeia sensações de origens destrutivas. Pode-se amar e odiar no mesmo instante, mas o ódio sempre se faz constante em maior proporção. O ódio nada mais é do que um amor ferido, espancado, judiado sem precisar usar-se da força física para tal. Palavras fazem sangrar, um homocídio a cada sílaba. Uma hemorragia interna a cada segundo, é o estado de quase morte, sendo este o sabor da vida usufruída da beira mais amarga, mais ingrata. Livros de autoajuda não passam de sanguessugas sem utilidades, porque palavras, meu caro, não pausam hemorragias. Nada mais são do que uma anestesia diária, sem conter a dor, apenas à manipula. Quando a mente definha, o corpo padece. Derramar-se em linhas ... Derramar-se em linhas ... E os pensamentos é a manivela para a vida ou aos cacos que restam dela. É o veneno e a libertação. Deus e o diabo andam de mãos dadas em suas ruelas. Em cada refúgio. E a lágrima de gosto ameno ganha a dramaticidade de hollywood sem encenação ... Há fragilidade é o que se tem de mais íntimo, típico de fundo do baú. Presente em cada abrir dos olhos. Entorpecer em delírios e envolver-se neles é a dose de ânimo que move as pernas, no fim das contas ...

terça-feira, 29 de julho de 2014

dois minutos pra daqui a pouco

   É bem verdade que tenho um acervo grande de textos engavetados, os quais estão sempre na inércia da minha falta de vontade de lembrar das coisas. A vontade de esquecer já é lembrar. Vez ou outra abro a gaveta e vou passando de um em um. Algumas boas geniais e outras boas ideias derrotadas. Há um nome de uma mulher muitas vezes repetido lá. Ao que me lembro, eu me enrolei com ela numa espécie de briga de gatos e acabei no chão. Como já disse, há nessa gaveta um equilíbrio: coisas boas e ruins. E tudo que tá lá tem uma característica em comum: me faz rir.
   E num mundo de timelines de facebook adubadas com o ego medonho alheio, vídeos virais que de tão engraçados não fazem sentido e imagens tão efêmeras quanto o piscar de olhos do cachorro, chega a ser um pouco estranho rir de si mesmo.
Sou como um homem numa praia, cansado. Tocando os grãos de areia e sentindo que há uma energia no mundo que liga todas as coisas. Um homem que há poucos instantes se debatia, esbarrando no desespero da falta de ar e na angústia de não poder realizar os sonhos que se acumulam na caderneta de poupança. Um homem que se engasga com a água e com a vida ao mesmo tempo. E a salvo na areia, não acredita ainda que vai conseguir tudo o que planeja antes de dormir. Mas ele se sente vivo. Se sente apto a não desistir. Olhando para o mar, que quase o engoliu, ele se sente como um pedaço do mundo. Mais uma partícula do espaço tempo que não somada a tudo, gera um todo. E um todo repleto de caminhos.
   Não tenho me importado muito se as promessas são cumpridas ou não, se as apostas são ganhas ou não. Mas não é um tanto - efemeramente - belo o fato de que eu posso apostar e prometer?
   Olhar pro começo e ver que já se saiu do lugar.
   Há dias em que o gosto levemente amargo do álcool não é sentido pelo nosso paladar. Há dias em que o álcool na boca é doce. Tem gosto de um sentimento estranho, o qual eu não sei explicar. Um gosto que entra em contato com meu cérebro e diz que há um ponto no universo que nada disso tem valor, mas que ao mesmo
tempo, nesse mesmo ponto, tudo isso tem o maior valor do mundo: ser único.
   E há dias incrivelmente surreais em que o gosto do álcool me faz acordar. Mas não há álcool. E é aí que está a mágica. Não há álcool. Apenas o sentimento do mundo.
   E, na boemia de minha nóia, a gorçonete parece ter uma face. Uma máscara perfeita de si mesma. E eu não consigo tirá-la de seu rosto. Vou perguntar depois onde ela comprou essa máscara. Como eu queria ter um carnaval só pra mim e então ir na loja que ela indicou, comprar uma máscara igual.
Como eu seria lúcido.
 
fiquem com esse som que eu já não se é meu ou dele.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rabiscos


 Nesse fim de segunda-feira - segunda chuvosa e, quem sabe, comemorada no sertão - acabo percebendo que o dia passou rápido e encharcado dessa minha preguiça que agradavelmente me acompanha nesses constantes dias mortos. Continuo com essa mania retrô de escrever no papel antes do virtual ... Nesse curto espaço de tempo me vejo "bombardeada" de informações. Morre Suassuna, Ubaldo e Rubem. Israel deita e rola em corpos palestinos e, de brinde, zoa o Brasil - novo "Tyrion" mundial - . Aviões são alvos de mísseis, holandeses choram. E eu, "mariazinha", sendo espiritualizada na paraíba. Palestras visando reflexões para uma vida voltada ao bem próprio e comum, oficinas e mais palestras. Orações, confissões pessoais, emoções à flor da pele. Arrepios. Choros. Deus. Nesse contraste, volto ao ponto de partida. Meu quarto, dia nublado, gatinha de estimação e aquela xícara morna de café. Artigos, amores, desejos, papos curtos, desvariação ... Penso como pode ser a vida sem lastimação.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Unhas

Minhas unhas estão enormes, tão grandes pra caramba. Tava percebendo isso enquanto fazia uma leitura chata, daquelas bem sacais, sabe? As palavras lidas já não codificavam nada na minha cabeça e eu estava imerso nas entrelinhas do meu pensamento. Puta que pariu, essas unhas tão grandes pra caralho! Se fosse grande por ser grande, tudo bem. Mas não é simples assim. Elas estão sujas e afiadas, andam machucando muita gente. Gente que eu não gostaria de arranhar ou de assustar com esse aspecto tenebroso. Acho que a sujeira vai aumentando toda vez que arranho alguém. Mas é sem querer, tá ligado? Eu não quero ferir ninguém, mas sempre acaba acontecendo. Porra, essas unhas realmente estão enormes. Às vezes eu tento esquecer disso. Mas toda vez que esqueço, acabo por arranhar alguém e me lembro dessas coisas monstras que tenho nos dedos. Se eu já pensei em cortá-las? É óbvio. Mas não é uma tarefa simples, elas voltam a crescer, a acumular sujeira; também há os relatos alheios e as diversas histórias tristes que os outros contam a respeito das malditas unhas. 
Pra ser totalmente sincero, a ideia de cortar minhas mãos me parece mais atraente. E mais fácil pra acabar com esses problemas de maneira definitiva. Quero uma folga pra mim e pros outros. Quero fugir sozinho pra bem longe ou que os outros fujam juntos, pra eu poder ficar “enfim só”. Não quero ninguém pra me lembrar do que eu sou; ninguém pra falar das minhas unhas. Quero encontrar refúgio pras minhas mãos. Bolsos, luvas, outras mãos, sei lá... 

domingo, 13 de julho de 2014

Nem todas as vezes

promessas e apostas. não cumpridas as primeiras e perdidas as segundas.
Com os olhos ainda embotados de cimento e sono, achar a faca por entre os talheres e se resignar. Observar a gordura branca que se funde com a carne branca. E o boi. O boi ali na minha frente. Houve um tempo em minha infância em que eu acreditava. Houve um tempo em que eu não comia carne. Eu até acreditava. Acreditava. Eu rezava à noite, enquanto os outros dormiam. E eu imaginava o dia em que ficaria sozinho neste mundo. Mas eu ainda assim acreditava. Acreditava em tudo. Na areia que escorria por entre minhas mãos enquanto observava o mar. Nas coisas que aprendia na escola. Nos cartazes que lia no centro da cidade. Todas as coisas pareciam correr para o mesmo canto.
E quem imaginaria que dez anos depois eu me sentiria mais vivo cortando bifes de uma peça de carne de três quilos?
A faca vazia de sentido escorrendo pelo sangue escondido por entre os sulcos visíveis a olho nu. Nada poderia me abalar.
Essa tosse seca que me incomoda há duas semanas não poderia me incomodar jamais. O medo ainda infantil de que talvez seja uma pneumonia ou algo parecido, mesmo que eu não saiba se os sintomas condizem. O fato de que hoje no almoço não vai ter suco. Dali há alguns minutos irei pegar o copo de vidro meticulosamente planejado pela ciência do design e despejar algumas mls de água para empurrar a espécie de macarronada. A falta de tempero completo no armário e a ausência da minha mãe. Nada me abala mais. Há tempos que não há tempero nem mãe. Há tempos que a ciência do design vai ganhando espaço na classe média baixa. Há tempos que a classe média é composta de pessoas tristes.
Eu poderia não ter enrolado tanto para falar dos teus olhos. Esses meio imaculados, meio protegidos por uma aura divina que não cansa de me proteger. Mas tudo está ligado, como diz você. O fato de eu estar cortando bifes para 3 pessoas e você ser vegetariana. O fato de que eu odeio médicos e sua hipocondria. O fato de eu não acreditar mais nem na areia da praia que supostamente se esvai das minhas mãos enquanto o sol se põe e você acreditar que o barulho do mar é a coisa mais tranquilizante do universo.
Não, não acredito mais no amor. Não acredito que um homem possa amar uma mulher e que estes possam viver felizes para sempre. Mas no fim das contas, acho que algo parecido com isso entre eu e você não duraria muito. Acho que você deve saber masturbar um homem muito bem, apesar de não saber ainda deste fato. Acho que no momento peculiar em que o rapaz gozar, você meterá a boca lá e engolirá tudo com a sede de um sobrevivente de uma catástrofe natural. Mas não desejo ser esse cara. Hahaha. Acho que você daria um apelido para o meu pênis.
Você, que odeia minhas contradições, não acreditaria se eu te dissesse essas coisas. Nem acompanharia a falta de padrão dos meus pensamentos. Mas seus olhos não deixam de ser o par de conjuntos de células e sistemas biológicos mais bonitos que eu já vi.
A diferença entre mim e um homem apaixonado é que ele está disposto a viver por sua paixão. E por você eu estou disposto a morrer. Ou até a encontrar um significado para a nossa existência que te convença a suicidar-se comigo. Mas se eu descobrisse o sentido disso tudo, ou mesmo tivesse uma prova cabal de que não faz sentido, se deus chegasse em meu ouvido e dissesse que tudo isso que a gente faz não tem significado nenhum, eu não te diria. O sorriso que tua fé te dá eu jamais poderia dar. Nem ao menos pra mim mesmo. E eu acho que nunca terei isso. Nem a fé nem o sorriso.

sei lá

quarta-feira, 25 de junho de 2014

sobre a frustração da vitória

garoa
O instinto do ser humano é engraçado. Eu nunca fui bom esportista, mas agora entendo de onde os desfavorecidos tiram a força. Agora entendo de onde a Bósnia tirou tanta força pra jogar contra a Argentina. De onde a Costa do Marfim tira motivação pra entrar em campo.
Por mais que o mundo nos ensine o otimismo, eu observo muita coisa com o pensamento de "isso não vai dar certo". Desde o seminário do semestre passado que eu tive que inventar uma desculpa pra não fazer até os próprios protestos do "Gigante Acordado". Durante as passeatas e etc, o Brasil estava dividido em dois: aqueles que queriam ir às ruas e àqueles os que iam contra o movimento. Eu estava deitado na minha cama pensando "nada vai mudar". E nada mudou. E não estou defendendo quem era contra os protestos. Eles também não mudaram nada. Sabe, é esse o problema: todo mundo acha que pode mudar, mas ninguém percebe a natureza é a força mais forte. A gente só tá aqui porque o acaso faz com que as condições sejam propícias. Assim como a criação das nossas leis, a eleição dos nossos políticos e tudo mais. O problema de verdade, é que a gente é educado pelo medo.
Desde criança, nós aprendemos, por exemplo, que não devemos ir para a rua porque o homem do saco vai nos pegar, ou porque o bêbado vai bater na gente. Na maioria das vezes, nós não temos acesso aos valores morais ou lógicos que transcendem o "não vai pra rua, moleque". E quando crescemos, essa metodologia de ensino não vai embora. Na escola, por exemplo, aprendemos o conteúdo e tiramos notas boas - ou apenas suficientes para passar - por simplesmente termos medo. Medo de decepcionarmos nossos pais, medo do estigma de ser um reprovado ou mesmo medo de passar por todo o terror de mais um ano letivo em nossas vidas.
Quando eu comecei a perceber essa lógica, eu achei que chegaria um momento em que todo mundo passaria a não ter mais medo e a seguir ideais e fazer coisas por simples e pura vontade. Mas não. Isso só acontece se as pessoas entenderem essa lógica e é aí que mora a desgraça: elas estão presas pelo medo. 
E as pessoas dos protestos de 20 de julho, das passeatas anticopa e os revolucionários das redes sociais perderam de repente o medo. Mas eles perderam o medo de só um dos lados. Eles perderam o medo de que as coisas continuem indo para o lado que estão indo e cheguem no fundo do poço, mas não perderam o medo de que a superfície do poço seja algo mais terrível que a metade dele.
Quando eu percebi isso, no ensino médio, eu achei que quando eu entrasse na faculdade ia ser diferente. Agora que estou na faculdade, percebo o quão complexo esse problema é, pois meus professores educam por medo, meus colegas de turma estão o tempo todo se borrando nas calças e até mesmo a didática que percorre os corredores tem medo.
Foi então que eu tive uma ideia. A grandiosa ideia de escrever um trabalho acadêmico sobre toda essa coisa mas aí eu percebi que a estrutura da ciência também tem medo. Quando alguém diz que tem um problema, essa pessoa tem que ir lá e mostrar uma solução para o problema, segundo a ciência. Mas eu não tenho uma solução para a forma com que a educação é construída. Eu, mísero aluno de uma licenciatura querendo derrubar séculos de estudos pedagógicos...
E então eu me ponho no meu lugar. Pego os ônibus lotados, sento na cadeira longe do ar condicionado para não estimular minha rinite e observo o mundo, derrotado. Percebo todos os homens terrivelmente amedrontados. E internamente, vejo seus rostos, tristes, pois não sabem o que estão fazendo aqui. Todos com medo. Medo de ter medo. E depois, eu também percebo que talvez, se não fosse assim, seria pior. Você consegue perceber que nada nesse mundo tem garantia, que nenhum barco nesse mundo tem um cais para se amarrar?
E por mais que eu entenda que nada tem garantia, eu continuo acreditando que algo vai valer à pena. Só não sei quando ou onde ou como. É a mesma motivação que fez a Bósnia simplesmente não sair de campo e voltar para casa e fazer suas orações diárias à Alá.
No fim das contas eu estou preso também, pois tenho medo de ter medo e também de não ter medo nenhum. Quem diz que não tem medo, na verdade tem fobia de medos mas não sabe.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Egos, ecos

Confesso, sempre fui uma little girl de pensamentos íntimos um tanto prepotentes. Sobre as pessoas, principalmente. Oras ... sempre tão imediatas e vagas. Nesses últimos dias em que sentei no sofá - sem muitas opções, sem ônibus e chuva- para contemplar os jogos da "Fifa Cuf", um fato fora de campo ofuscou minha atenção, sim, os focos ainda restantes de "manifestações"- com algumas bandeirinhas partidárias, claro-  contra os gastos, excessos e roubalheira na Copa do mundo no Brasil - esse diabo maligno culpado por todas as mazelas dessa nação - sem tanta força ou tanta atenção como o eufórico estopim do ano anterior que fez transbordar de selfies as redes sociais, cheias de cidadões conscientes e ativos em prol de um Brasil mais justo, os mesmo, diga-se de passagem, que agora transbordam os estádios e as ruas cantando com muito "orgulho e amor" o hino nacional. Oh, desculpe. Sou daquelas que perde o amigo mas não a piada. Voltando a questão. Não quero dizer, my lady our my lord, que os tantos restantes que continuaram na "luta" são uma piada, ao contrário, democraticamente estão manifestando sua indignação por aquilo que acreditam. Mas, o que eles acreditam? Que houve muita sujeira, trapaça e contratos milionários superfaturados na contrução dos estádios, vias e etc (?) Sim, de fato houve. E que todo esse dinheiro deveria ter sido destinado para educação, saúde e segurança (?) E, digo mais, que todos os outros do mundo são imbecis alienados e que eles são os únicos bem domesticados para que todo esse sangue derramado enquanto o resto do país deleita-se com caipirinha e samba fará juz a sua luta heróica - que drama, bitch please - (?) Bem, eis as questões. Como boa descrente da bondade gratuita alheia. Sinto dizer, meus caros, que a ideia de que "sem a copa" o governo investiria - o que deveria, mas não - milhões/bilhões em 4 anos nesses três viés tão batidos e rebatidos nesses últimos tempos é, no mínimo, fantasioso. Não seríamos uma país de primeiro mundo se não tivesse "copa". Essa demonização disseminada é tão tola quanto as vidraças de bancos quebradas por black blocs que acreditam travestir seu fetiche e, quem sabe, vocação por arruaças banais em discursos chulos. Assim como os tantos, eu também acho justo - por desconfiavel que possa parecer - e válido as formas expressivas de indignação/protestos/buscapordireitos, afinal, são as armas democráticas que a massa dispõe. Apesar do meu egoísmo discreto, também penso que todos merecem  oportunidades para conquistarem seu lugar ao sol mas achar que egos hipócritas que costumam exaltar demasiadamente seus clichês típico de embalagem de margarina e ecos que repetem os mesmo sem a mínima análise que seja, feito papagaios bem alimentados, tenham chances de iluminar a direção de um país para o outro lado do arco- íris ... bem, talvez, com uma reciclagem e teorias menos juvenis visando de fato objetivos sem que suspirem por fama, holofotes ou cobertura da mídia, pode-se sonhar com uma acesa velinha de lampião. Quem sabe, quem sabe ...

Ah, nada como voltar ao meu doce veneninho prepotente ...



sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ensaio sobre a vida



Nesses últimos dias em que nos encontramos em uma mescla eufórica de férias e futebol, pego-me em mais um desvario sobre a vida. Não de forma erudita ou tampouco com olhos e mente muitas vezes tomados pela insensibilidade que os dias nublados fazem me envolver. Mas, sugerir-me uma forma simples e sutil de olhar a vida pelo buraco da fechadura - assim como o menino Nelson via o amor - é, talvez, um dos maiores desafios que a vida, em sua essência, pode propor. Não estou dizendo, caro leitor, que devas acordar às cinco da manhã para contemplar o sol nascer ou, quem sabe, viajar para o campo desfrutar dos seus ares e canto dos passarinhos. Não, absolutamente. O buraco da fechadura é a forma despretensiosa de perceber o imperceptível, a raspa do tacho, o fato que não dão importância, o sorriso sem dentes, a rosa que não brotou, a palavra contida, o espetáculo sem aplausos. É a valorização do desvalor. Sinto mas a vida, meu bem, sempre cobra mais do que simples ensaios.


Buraco da Fechadura: Juliano Pinto, de 29 anos, que é paraplégico, deu um "chute simbólico" em uma bola de futebol na abertura da Copa do Mundo. O exoesqueleto, equipamento desenvolvido pela equipe do neurocientista brasileiro Miguel Nic







sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pensamento meigo e abusado.

bad romance > aquarela do brasil
Daí tem um dia que a gente percebe que tá vinculado a uma realidade tão monótona e repetitiva que a gente precisa escapar dela. Nem todo mundo percebe realmente isso, mas todo mundo, em dado momento da vida, começa a querer escapar da verdade, das coisas reais. E esse momento, na maioria das vezes é o mesmo momento em que a gente se põe no nosso lugar de ser pensante, racional, proativo e de individuo-que-vai-mudar-o-mundo e se vê na obrigação de fazer algo nesse mundo louco de meu deus.
(Não vou discutir moral desses pensamentos nem o sentido de todas essas coisas, pois meu existencialismo pessimista só tem me degradado nos últimos tempos. Não que essa degradação seja ruim também, mas não vem ao caso. Só quero falar sobre a humanidade, generalizando o quanto for possível para descarregar um pouco das angústias que a masturbação existencialista me proporciona)
Daí a gente cresce mais um pouco e se vê agregando valor à nossa forma de fugir da realidade e desprezando cada vez mais a dos outros, quando é diferente da nossa, é claro. E chega um momento em que você compra um óculos de aro grosso, compra uns livros e acha que o mundo está aos seus pés. E para implementar com mais força essa ideia, o mundo aplaude seus óculos de aros grossos e os livros que você comprou e leu e discute com seus amigos e posta citações nas redes sociais. Mas isso não é nada.
Eu sou um tanto viciado em alguns jogos onlines, ouço com frequência Anitta e Lady GaGa e admiro li a coletânea "23 livros de poesia de Drummond de Andrade". Isso não faz de mim especial. Este só sou eu atendendo aos desejos que sinto e só. Todas essas coisas, por mais que elas não tenham nada em comum, elas continuam tendo algo em comum (hã?): elas são fugas da realidade. Elas se utilizam de objetos do mundo real para criar realidades paralelas as quais nós podemos interagir e trazer como complementos para nossa vida, seja através de análises ideológicas, metáforas ou expressão artísticas (inclua aqui a criação de mais realidades paralelas, como esse blog ou os artigos que Thalita lê).
Até então, o jogo online e "Dom Casmurro", de Machado de Assis  para mim tem a mesma função. E há algum tempo percebi que para o mundo não é bem assim. E eu, como um bom ignóbil no seu mundo invisível, desconstruirei isso com todo o prazer.

Há alguns anos, percebi que eu tenho o mesmo peso no mundo que um Professor Doutor em Línguas Estrangeiras. E não estou desmerecendo o Doutorado dele, o Mestrado ou todos os anos que ele passou estudando na academia, só estou dizendo que eu também sou um ser humano e que a única coisa que me diferencia dele é o que a teoria da identidade de Kant prega: ele apenas tem uma visão de mundo diferente da minha. Nem melhor nem pior, apenas diferente (parece slogan de alguma campanha de marketing fula).
as inimiga chora
Desde que eu comecei a pe
nsar dessa forma, eu digamos que alcancei o nirvana do senso crítico. A diferença entre mim e o Professor Doutor em Línguas Estrangeiras (vamos chamá-lo agora de apenas PD) é que o senso crítico dele é focado em um ponto do mundo. Ele lê muito, sabe das teorias linguísticas pré-modernistas da Rússia de Lênin, sabe dos trejeitos literários dos contos pós-modernistas de Tchékov e tudo mais. O PD sabe até mesmo que não se deve usar mais hífens como os que eu usei algumas orações atrás. E eu, o simples Neto, licenciando de informática, aluno do instituto federal não sei de metade dessas coisas que ele sabe. Mas eu consigo extrair sentimentos e pensamentos do hit "Meiga e Abusada", de Anitta. Consigo equiparar Lady GaGa e Drummond sem me sentir pretensioso, sob o olhar mais simples da coisa. E não estou dizendo que o PD não tem capacidade de fazer isso, pelo contrário. Ele tem até mesmo mais bases para fazer isso do que eu, dados os seus conhecimentos técnicos sobre linguística e literatura que poderiam ser aplicados de forma científica sobre as letras de Anitta. Mas ele não foi educado para isso. E eu não entendo o porque, já que todos os supostos objetos de estudo científico que eu citei acima são, independente de outras classificações, fugas da realidade.

E outra: o PD foi educado para não perceber certas coisas. Foi educado de forma que sair da "Linha imaginária de crítica filosófica" parece perda de tempo. E eu me pergunto, nos dias de hoje, porque Anitta não figura entre os grandes nomes da arte brasileira, já que ela produz uma obra, executa a mesma e algumas pessoas gostam e outras não? Entendem que não há nada que diferencie ela de Vinícius de Morais, em termos gerais?
E porque o PD não consegue perceber isso? Porque nossa educação é baseada no medo. E ele tem medo de perceber que tá errado e de se sentir obrigado a virar contra um mar de acadêmicos barbudos, que teorizam sobre a cor do vestido que a personagem usava enquanto descia as escadas, descrito em 3 páginas extremamente monótonas de "Senhora", de José de Alencar.

"Esse tal de Neto... kkk Só fala bosta" DRUMMOND

domingo, 25 de maio de 2014

Domingos


Tia "bibi" olhava desolada o enorme buraco em seu quintal, consequência de um vazamento. Lembrava atordoada da noite passada, na qual seu filho Beto quase foi devorado por aquele cretino buraco que mais lembrava a boca de um tufão. Andando sorrateiramente os quatro cantos da casa, alarmou-se:

- Beto! Ligue para todos os seus tios, vamos fazer um mutirão. Família serve pra isso mesmo. 

- Mas, mãe. Hoje é ...

- Sem mais, Beto. Diz que terá feijoada!

Beto sem alternativa acabou obedecendo simultaneamente.

- Alô, tio Pelé?

- Ôh, Betão! Cadê a bênção, menino?!

....

- Alô, tio Pedro?

...

- Isso mesmo. Feijoada.


Casa cheia. Tia bibi se desdobrava em duas para relatar a lástima da terrível "cratera" em seu quintal e para dar conta de encher a barriga daquela gente que mais parecia lagartas famintas seguindo o delicioso cheiro da sua feijoada.


- Ôh, bibi! Trás aquela cervejinha pra acompanhar.

- Mãeee!!!  O léo derramou o feijão todo no sofá.



 Tia bibi, coitada. Corria  de um lado para outro.

Exclamava:

- Calma, minha gente!

  
Intimidava:

- Desce daí, peste. Você vai cair.


 Acarinhava:

- Não acabou, não. Já coloquei mais água no feijão!




Fim do dia.


E lá estava tia bibi, olhando desolada (...)

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O pícaro russo, de Gary Shteyngart



à Isaac 
Garrincha tinha pernas tortas. Ele é um dos meus maiores idolos. Eu não gosto de futebol.
Perceba nas três afirmações acima destruições de personalidade, sentimento de aceitação e  uma história de superação, distribuídas de forma aleatória pelo universo. Vou responder a uma  pergunta que às vezes eu mesmo me faço quanto às três afirmações anteriores.  

Porque João é fã de Garrincha, se este era um jogador de futebol com pernas tortas e  nem de futebol João gosta?  
Mais uma pergunta: João gosta de pernas tortas?

Garrincha tinha tudo para dar errado, mas deu certo. Assim como Cazuza e assim como eu. Cazuza tinha problemas vocais. Até mesmo Sartre, com sua vesgueice, sua feiúra e todos os questionamentos que ele crucificava em seu próprio eu, no fim das contas, deu certo de alguma forma. Eu não me preocupo com a forma como estes exemplos que estou citando deram certo, apenas com o fato deles  terem dado certo sob uma perspectiva adorável para a nossa sociedade. Mas e eu? Onde eu entro nisso?  Qual o meu erro e minha carta na manga? Meu defeito e minha absurda genialidade de fazer dela uma qualidade.
Eu existo. E sabe o que há de sucesso nisso? Há todo o sucesso do universo, mas ao mesmo tempo não há nenhum.  Só imagino aqui dentro, no turbilhão defeituoso que é meu pensamento que há alguma coisa de errado no fato de  ter ganhado a gloriosa corrida dos espermatozóides. É a cegueira do universo. É, eu ganhei. Mas ao sair do útero, devo ter me perguntado inconscientemente: e agora?  Agora eu tô aqui.  
Eu não escolhi, mas sou brasileiro, cidadão desse mundo. Cidadão do mundo louco de meu deus. Tenho carteira de  identidade, cpf, cartão de crédito, matrícula na faculdade, email, boleto bancário com meu nome... Eu tenho até  um nome. Uma etnia. Mas tudo isso não passa de uma confederação de erros.  Como diria Hemingway: "Eu entrei errado".

O Pícaro Russo vem pra isso. O pícaro russo é a vitória do erro. É o Garrincha, o Caju, o Neto. O homem que  responde com a vida ao questionamento: viver pouco como um rei ou muito como um zé?  
O lance é viver.
E se eu estivesse falando a última frase, ela não teria uma exclamação verbal, assim como  não tem uma textual. Não teria dito-a com alegria ou efusividade positiva. É apenas uma sequência de letras derrotadas por um ponto final. E não seria a mesma coisa se fosse uma vírgula, interrogação. Pelo menos não para mim. Cada um coloca a pontuação que quiser no final dela. Mas pra mim, ela é um ponto. E talvez  nunca deixe de ser.  

E para variar, eu me perdi novamente no assunto. E eu não vou editar isso para que minha falha seja camuflada.  Voltando ao assunto, eu sou brasileiro. Sou, mas não escolhi. Não estou dizendo que se eu pudesse escolher,  eu não teria escolhido o Brasil como nãção. Acho que estou até um tanto satisfeito com tal. Mas a questão é  apenas que eu não escolhi. Assim como eu também não escolhi ser parte de tudo isso. Não acho triste como outros  estudiosos do humanismo acham, só acho que pouca gente consegue ver isso. Sabe, o lance não é com o Brasil.  
Mas a gente não escolheu ter dois olhos ou cabelos pretos.  
Assim como Vladmir Girshkin não escolheu ser um judeu russo erradicado nos EUA.  

Voltando um pouco aos erros que deram certo, tenho um dado interessante sobre Mané Garrincha: "Ele e Pelé, juntos, jamais perderam um jogo pela Seleção Brasileira, 35 vitórias e cinco empates em 40 jogos." E um dado também bastante interessante sobre Caju: "Em apenas nove anos de carreira, Cazuza deixou 126 canções gravadas, 78 inéditas e 34 para outros intérpretes."
Sartre: "Jean-Paul Charles Aymard Sartre morreu em Paris, França, no dia 15 de abril de 1980".
Sobre Vladmir Girshkin eu tenho um livro com 450 páginas de pura excelência fantástica. 
E sobre mim mesmo, o que tenho? Tenho frustrações e canções num mesmo barco paradoxal. E um desejo pela simplificação do caos. 

Eu tenho um desejo estranho que me faz levantar todas as manhã: o de simplificar o caos indivisível que cerca a minha invisibilidade. Com licença, vou limpar meu óculos. Ela já me deu boa noite. 

"Eu sou um erro posto aqui e tenho consciência do meu erro. E eu não cometo mais erros em cima do erro que eu sou" PETRY, Arthur

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Cecília

Quando tinha cinco anos de idade, ainda na aurorinha da vida, fiz uma viagem que já estava até habituado a fazer: Fui para a casa de minha avó, no interior do RN. Estou falando de um lugar onde o sol sempre brilha. Um lugar onde os selvagens vagam e a grama esverdeada é onde eles fazem sua morada. Um lugar onde é verão o ano inteiro e as pessoas podem levar suas vidas simples tranquilamente. Mas daquela vez que apareci por lá, tinha algo novo. Um circo que irrompia sorrisos acabara de chegar àquela já tão lépida comunidade.

 No meio daquelas brincadeiras confusas que eu fazia nas proximidades do circo – brincadeiras que nem mesmo as crianças entendem o que estão fazendo -, conheci uma moreninha linda, com a mesma idade que eu, dos olhos negríssimos que pareciam duas luas gêmeas no espaço da inocência infantil; tinha os cabelos bem lisos e uma cicatriz circular no couro cabeludo que formava uma região infértil onde não crescia cabelo.  Seu nome era Cecília, era do circo, fazia um espetáculo onde ela descia dulcíssima e delicadamente de um tecido pendurado no teto da estrutura metálica que sustentava o circo.

Durante os poucos dias que passei por lá, corremos soltos e livres pelas ruas de terra batida e, exaustos, caíamos no chão e cavávamos  e cavávamos e cavávamos mais ainda. Aquilo era estranho demais pra mim, já que fora uma criança sedentária que só sabia jogar vídeo-game e era proibida – por excessivos cuidados maternos – de conseguir machucados e arranhões.  A gente queria cavar até o fim do mundo. E eu sempre com medo daquele início de mundo que nos cercava. Tinha medo das galinhas, das minhocas, mas perdi meu medo de adquirir hematomas ou de me sujar por inteiro. Nunca passou-me pelos sentidos ter medo de me distanciar dela, nós estávamos efusivos demais com a ideia de atravessar o mundo pela senda que nós criaríamos. Fomos melhores amigos por alguns dias e ela passou até a frequentar a casa de minha avó. Dona Maria, aparentemente, gostava mais dela do que de qualquer um de seus netos. Justificável. Tínhamos um pássaro livre na nossa frente, alguém que desde cedo não era habituada a gaiolas ou prisões. “Nasci no Equador” – disse Cecília. Eu nem sabia que raios era Equador, mas pude perceber que havia algo de surpreendente nesse fato pela expressão que se formou na cara dos adultos quando ela falou aquilo. Fui-me embora alguns dias antes de o circo ir-se também.

Sempre vejo meu passado através de um filtro alaranjado de vislumbre. Não consigo ter reminiscências sem esse viés poético na lembrança. Lembrei-me dela porque estava lendo On the Road – Pé na Estrada (Jack Kerouac), livro que mostra o nascimento de uma sociedade beat, contracultura, viajante, drogada e alucinada. Personagens incrivelmente simples e que significam tudo mesmo aparentando não serem nada.  Caras que viajavam dois, três, quatro mil quilômetros pra curtir um bebop num bar escuro do oeste americano; queriam apenas descobrir quais eram suas estradas. Sempre com muitas mulheres, eram fiéis apenas à Maria Joana. Verdadeiros Anjos do Mundo.

 Às vezes fico imaginando o que Cecília tem feito, o que aqueles olhinhos andam fitando, onde aqueles pés têm pisado, como está aquela tez angelical. A imagino como se fosse uma espécie de Neal Cassady angélica e pura (?).

Hoje eu estou fazendo 18 anos de idade. Há 13 anos não vejo Cecília e, provavelmente, nunca mais iremos nos ver. Nossas histórias se cruzaram por mera fotuidade e capricho dos mecanismos  universais; talvez ela nem lembre que eu existo.  Só desejo que esse anjinho do mundo esteja alçando voos mais altos que os meus.  

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O azarão, de Marcus Zuzak

   Porra.
   Olhar pra tua foto e pensar "hoje não" é o melhor sentimento do mundo. E pensar em você como uma estranha, como parte de um passado que eu agora consigo dizer sorrindo que já passou.
Baby, ontem a noite foi louca. E quem disse que o álcool não ajuda, estava errado. Acordar pela manhã com um gosto amargo posto pela mistura de cerveja, cana, lasanha e outras coisas as quais minha memória não foi agraciada, olhar a foto tua do jantar de dia das mães e pensar que todo o tempo que eu perdi com você foi realmente perdido. Chega a ser engraçada a minha idiotice.
   Pra quantos caras você já deu depois de mim? Você me ensinou. Meu livro favorito foi um presente seu. Meu escritor favorito foi você quem me apresentou. Mas agora, às 7 da manhã, depois de uma noite terrivelmente feliz, eu entendo que não há nada além de conversas, sorrisos, lágrimas e algumas batatas fritas. Mas sabe a notícia ruim, baby? Batata frita eu posso comer com qualquer um.
   Todo mundo tem um sorriso pra me oferecer. A noite de ontem foi a prova disso. Mesmo que os sorrisos estivessem sendo alterados, ou mesmo gerados pelo álcool, eu tive sorrisos. E as pessoas estavam felizes por eu estar feliz. Todo mundo tem mágoas pra compartilhar. Baby, o mundo é tão grande, porque desperdiçá-lo pensando em vossa senhoria?
   Tenho a minha falta de talento, a falta de coordenação motora, meus amigos também derrotados, a falta de um lugar seguro para não me machucar nesse mundo louco de meu deus, o fato de eu ser uma peça que não tem encaixe no quebra cabeças da vida, meus erros propositais para causar confusão, o amor adverso da minha família semidesestruturada, a angústia dos exercícios de álgebra linear e as cogitações de futuros incertos. Tenho tudo isso para sofrer e me fazer mal. Porque eu sofreria por você mesmo?
   E Markus Zusak, o que tem com isso?
   Ele faz os personagens dele serem grandiosos, mas grandiosos de uma forma real. Não há grandiosos monstros ou super heróis. Pessoas normais que não tem nada de extraordinário, mas que entenderam a lógica dos erros da vida e perceberam que ser um erro de  vez em quando é um acerto.
   Zusak é o cara que dilacera um boi com uma colher de chá de farinha de trigo (?).
   Ele vai no âmago da derrota e mostra que há uma vitória lá.
   Ele mostrou que Ed podia mudar o mundo sendo um motorista de taxi, mostrou que Liesel pode entender que o valor da vida é o valor das histórias que temos pra contar, mostrou a Rube qual é a luta que realmente importa. E mostrará a Clay que a ponte nunca ruirá se ele não quiser.
   "O azarão" é um livro que não tem um clímax de tirar o fôlego, não tem uma cena de ação fortíssima nem tem lances de investigação por trás de um crime. É uma obra subestimada por não possuir nada demais, pois o ser humano tem essa tendência a buscar por coisas extraordinárias e cheias de complexidade. E mesmo que haja quem diga que a beleza da vida está nas pequenas coisas, ainda preferem ler "O símbolo perdido" ou "O Alquimista" do que arriscar suas grandiosidades intelectuais em uma perda de tempo literária que seria "O azarão".
   Em um vídeo que perambula por esse universo louco que se chama internet, encontramos Gustavo Magnani, um escritor e estudioso da área falando uma coisa interessante. O vídeo em si fala sobre a grandiosa polêmica perdida por entre os corredores das faculdades e universidades de humanas, berço dos comunistas burgueses, mas o que interessa para meu texto é apenas um trecho em que Gustavo fala que no fim das contas, o que importa mesmo são os sentimentos que as obras despertam em cada um de nós, o que elas nos fazem pensar e fazer. Para ele, não importa muito o que a crítica ou a academia no geral tem a dizer. E eu concordo com ele. Mas o ser humano tem uma capacidade de querer ser idiota que é impossível de ser igualada. E "O azarão" fala também disso.
   O fato de não termos nada de mirabolante na história nos faz pensar sobre o quão erradas estão as pessoas certas. O quão certas estão as pessoas erradas, o quão vazias estão as totalidades e todas as outras variações que essa prerrogativa pode levar.
   "O azarão" conta a história de um rapaz comum, que ama e que pensa no futuro. Um rapaz que sofre por amores não correspondido. Mas que vence a luta da vida com suas próprias técnicas. É o que eu faço, basicamente.

Gênio.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

resignação

Ao som de “Eu não tenho um barco, disse a árvore”, de Cícero.

As garrafas de champagne seguem estourando à meia noite do primeiro dia do ano, os motoristas de ônibus continuam fazendo suas greves e minha rinite alérgica me ataca nos meses de chuva.
Eu acho que esqueci o cheiro dela.
Os maços de dinheiro nos bolsos do traficante, as cartas na caixa de correspondência e as flores nos túmulos dos escritores mortos.
Eu acho que esqueci o cheiro dela.
É difícil tentar não parecer clichê, repetitivo e doloso. É difícil não parecer estar numa novela das oito ou num filme de comédia romântica. Queria acreditar que tu vai abrir a porta do meu quarto às 3 e cinquenta da manhã e vai me mostrar que teu cheiro está guardado numa gaveta empoeirada da minha memória.
Eu ainda tô aqui, escrevendo essas coisas que você dizia gostar. E dizia metade pra me agradar e a outra metade porque se achava um tanto no meio dessas idiotices que me saem de forma corrosiva nessas madrugadas em que eu aprecio a apatia do teto do meu quarto. Acredite ou não, minha mente ainda é a mesma. Ainda continuo são, naquela loucura meio revolucionária que você dizia amar. Mas dizia, em parte, pra me agradar e em parte porque gostava mesmo desse meu desejo indevido de dizer com todas as letras que “não fazer nada é uma arte”.
Se tu ligasse agora, não apareceria mais teu nome abaixo de uma foto meiga. É, eu tentei te esquecer há algum tempo, mas não deu certo. “Como tudo na tua vida”, você diria. É, baby, nada dá certo comigo. Sou cheio de erros, não cumpro minhas promessas e nem completo as coisas que começo, mas diz pra tua cabeça que tu não gostava do pedaço-de-ser-humano-inerte-sem-qualidades que eu sempre fui. Diz pra tua cabeça, diz. Tenta mentir pra ti mesma. hahaha
É um fato: se você me ligasse agora não apareceria teu nome, porque na minha agenda eu dou preferência para o disk-entrega-d’água ao invés de desilusões amorosas. Mas tá aqui outro fato, baby: eu sei a porra do seu número. Cada um deles. Aquele zero e aquele 17. Sei sim. E se eu tivesse coragem eu ligava agora e mandava tu tomar no cu. Mentira, eu ligava só pra ouvir você dizendo alô e depois voltar a dormir sem entender porra nenhuma.
Eu acho que esqueci teu cheiro.
É, eu sonhei contigo. Eu ganhei aquela bolsa que eu queria, tive aquelas brigas com minha família, resisti àquela ida no psicólogo tão adiada. Peguei uns livros emprestados e fui no cinema sozinho. Desisti daquele curso que tu odiava e completei o ensino médio antes do esperado.
Mas quando eu vou deitar na cama todos os dias, eu olho pro meu teto e me pergunto “e daí, João?”.
E daí que todos os meus amigos me chamam do apelido que tu colocou, e daí que foi muita coincidência eu estar ouvindo tua música preferida da primeira vez que a gente se falou, e daí que o menino-prodígio-das-notas-altas-em-algoritimo sente tua falta nas noites de insônia. Sente falta do riso bobo da tua irmã mais nova, sente falta das conversas sem nexo com a tua irmã mais velha e sente falta de fazer média com teus pais.
Sabe, eu nunca fui bom aluno na escola nem fui exemplo de nada bom. Eu sei que seus pais perguntariam a qualquer imbecil que fosse pseudo-namorar você sobre o futuro e sobre as notas da escola. Mas eu, baby, eu não tinha perspectivas, sonhos ou nada. E seus pais sabiam, tava escrito numa plaquinha em cima da minha testa. E mesmo assim, eles fingiram gostar de mim, porque de alguma forma eles entenderam que eu te salvei. E eu te salvei.
Mas e aí?
Tá aí.
Sabe o que é pior? É que esse texto pode ser entregue pra muita gente com algumas poucas alterações.
Eu não sei escrever essas coisas com personagens.
:)

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O dia em que eu recebi meu cartão de crédito

Há algo de errado em entrevistas de emprego. Todos são proativos, sabem lidar com o grupo e trabalhar em equipe. Todo mundo aprende rápido e possui flexibilidade, seja ela emocional, temporal ou outro bla bla bla. Mas no fim, todo mundo é um nada. Ninguém diz na entrevista de emprego que rói a unha ou que tem oscilações de humor nas manhãs de segunda feira. Ninguém conta que procrastina os trabalhos da sexta feira. Se os currículos fossem todos iguais, o critério utilizado para seleção das pessoas nas empresas seria preferência culinária, habilidades artísticas e desenvoltura esportiva.
Na caixa de correio hoje pela manhã, descobri uma carta do Banco. Um cartão de crédito com meu nome, com data de vencimento para daqui há 6 anos e com uma insígnia internacional.  Não veio dizendo que crédito na verdade é um dinheiro que você pode gastar apesar de você não o ter. Não explicaram os seguros que você vai se cadastrar sem ao menos saber.
Sabe o que eu sou?

Sou aquelas letras minúsculas que aparecem no canto esquerdo dos anúncios da tv. Letras essas que as empresas são obrigadas a colocar com os requesitos necessários para aquela promoção superextraordinária ser cumprida. Esse sou eu. Sou o aviso de erro que ninguém lê.

Todo mundo é um pouco daquelas letras minúsculas, perdidas no fim do comercial. Mas todo mundo quer ser a letra de amor do chico. Todo mundo é sem preconceitos e tolerante. Todo mundo tem bom humor na segunda feira.
Até mesmo a subversividade é nula. Tudo poderia ser substituído pelo equilíbrio da natureza. Sem a gente por aqui. Seguindo apenas o equilíbrio natural que as coisas tendem a seguir.

Mas então, neto. Tudo isso aqui faz parte do equilíbrio. O que seria  do equilíbrio se uma das partes não tendesse para um dos lados? E o que seriam das partes se elas não corressem atrás da própria gana, da própria bizarrice, se não levantasse as próprias bandeiras e cantasse as músicas que os representam. Até os que não levantam bandeira nenhuma, lutam pela causa individual de poder ser livre para não levantar bandeira nenhuma. Mas a gente nasce livre. Não é difícil perceber. LIVRE

LIVRE pra dizer que não precisa tomar refrigerante para arrotar, pois ao longo dos anos você aprendeu uma técnica revolucionária para utilizar o próprio ar atmosférico para produzir sons guturais na mesa do almoço com seu chefe. E ele rir.
Para dizer que, segundo a psicologia, você tem tendências suicidas e tristeza aguda mesclada com depressão, que na verdade é só aquela vontade de não existir que aparece quando você perde o ponto de ônibus e tem que andar 1 km ao invés de 100 metros. Aquela vontade de explodir que te dá ao perceber que a notícia mais relevante do jornal da tarde é sobre o buraco da rua que você passa todos os dias. Aquela vontade que te dá quando pensa nos amores que você não superou e em todas as possíveis candidatas que você teria a futura namorada se não fosse um merda que não acredita nem em si mesmo. Aquela vontade de que um cometa exploda o chão da terra quando percebe que o universo é cego.

Mas na verdade, você não é livre nem pra dizer que escreve textos às 3 da manhã sem que não haja nenhum retorno para você. Nem pra dizer que não quer morrer sozinho e que na verdade você queria namorar aquela guria. Não sinto.
Ser livre pra ser eu mesmo? Piada do mundo moderno. Partindo do dia de hoje, eu sou apenas o número do meu cartão de crédito.

terça-feira, 22 de abril de 2014

ronaldo

E na final da copa de dois mil e dois, ronaldo chuta a bola num rebote e bota pro gol. E depois, numa jogada um tanto bonita, mais uma vez coloca pra dentro do gol a bola, junto com a derrota da Alemanha e o sorriso no rosto dos brasileiros. Não tenho certeza como foi o decorrer da semana no país, mas no mínimo, ganhamos feriados para a ressaca. Porque trabalhar se o Brasil ganhou a copa do mundo ontem? E eu não estou reclamando, dizendo que brasileiro é preguiçoso e todo aquele blah blah. Não trabalhar faria tanto sentido quanto ir trabalhar.
Eu tinha seis anos e admito que não lembro de muita coisa. Não lembro como reagi, como meus pais reagiram. Mas lembro que eu estava errado."Mas errado porque?"
Porque eu fui o espermatozóide vencedor.
A culpa é do rato. Do rato que eles tentam pegar todos os dias mas não conseguem. A falta de sentido do queijo que poderia alimentar algumas bocas famintas. Mas o erro é meu. Ronaldo, com seu cabelo ridículo se tornando herói de um povo. Ronaldinho sendo substituído nos últimos momentos. Kaká, que ninguém sabe ao certo se entrou ou não no jogo. Felipão. Galvão Bueno.
E onde eu estava?

Todo mundo em seu lugar, fazendo suas coisas. O que mais eu poderia fazer se não fizesse minhas coisas? As coisas. Respirar forte. Suspirar, como dizem. Brigar com o mundo para conseguir a primeira transa. Usar camisinha para não pegar aids e para não ter filho.
Para não ter filho. Inibir a minha natureza humana e meu instinto animal para suprir meus desejos. Inibir o mundo.
Mas e se na fábrica, a camisinha não passasse por uma verificação, se o engenheiro de produção não tivesse planejado bem e o mecatrônico tivesse esquecido daquela linha do código em COBOL.
Deus do céu, saber que sou um sequência de erros não me faz querer levantar da cama, querer um bom emprego ou aprender a tocar aquela música no bandolim.
A vontade de apertar o delete e segurá-lo é sempre válida. Está sempre aqui comigo.
Mas a culpa é do rato.
O fodão é Ronaldo.
A rola grossa quem tem é Alexandre Frota, que lê bukowski e não tem preconceitos contra travestis. Aquele site pornô, aquela revista de fofocas.

A fraqueza do dia a dia dá um pouco de forças praqueles que pegam menos no supino. E corre. Corre, josé. José não anda mais.

Ronaldos sendo registrados em cartórios. Ronaldos sem talendo nato pro futebol. Ronaldos dirigindo empresas. Toda forma de poder é ilusória se um dos lados deixar de existir. Eu não existo. Mas para negar a existência, é preciso que exista algo. E no algo: eu renasço. Ressurgindo das cinzas. Sem entender o cheiro de queimado. 
Joãos sendo registrados. Mas joão não foi herói. João não ganhou copa, não dirigiu empresas. João afogou Jesus Cristo num rio de forma tão rápida, que acharam que ele tava lavando o cabelo dele. João enxugou os pés de Jesus. João não era a luz, mas era a testemunha dela.
Os ronaldos possuem pés, chuteiras e talentos natos. Os ronaldos jogam bola, comem travestis. Colocam culpa na tireoide para o sobrepeso. Mas ninguém era obeso em auchvitz. Nem todo mundo sabe escrever alemão. Nem todo mundo sabe traduzir Nitche sem usar as notas de rodapé.

Certa vez conheci um cara chamado Vênus. Ele tinha uma camisa legal. Ela era furada. E boa parte da minha melancolia nasceu por causa do inglorioso fato da camisa de vênus estar furada.
Eu estou sempre atrasado. Nove meses de atraso, baby.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, Luiz Felipe Pondé

Estou ficando velho.
Mas isto pouco tem a ver com o fato de estar saindo finos pelos dos poros de meu rosto. Pouco tem a ver com o tamanho do meu pênis ou com a minha altura. Cheguei à conclusão de estar ficando velho porque tenho dado mais atenção a minha cama, com meus livros, minhas músicas absurdas e meus pensamentos mal amados do que para o mundo-lá-fora, por trás da janela (ou seria à frente da janela?). Parece que eu fui acordado e ainda não tenho controle total de minha consciência. Mas sei que fui acordado. Eu mesmo me acordei. Me obriguei a sonhar com uma queda e acordei antes de tocar o chão onírico.
Estou velho. Os shoppings estão cheios de pessoas que eu evito, as lojas de departamento, as lanchonetes. As casas dos meus amigos. O mundo virou um churrasco na laje e meu corpo recusa as carnes.

Politicamente correto é bem mais do que se imagina. É uma fórmula extremamente bem elaborada, que apesar de não fazer sentido, foi pensada de tal forma que não é possível refutá-la aos olhos de quem a usa. Eu diria que  é um mecanismo do mal em uma embalagem do bem. E Pondé vai lá e coloca uma etiqueta na embalagem informando: "Imagens meramente ilustrativas".
"Imagem meramente ilustrativa" é um artifício criado pela publicidade para dizer na sua cara que está mentindo com o único e meticuloso objetivo: fazer você comprar determinado produto. Mas que meio mais idiota é esse? Mentir para alguém, dizer que está mentindo e ainda fazer esse alguém comprar o produto por meio de uma mentira "autorizada"?

Bem vindo ao mundo moderno.
E sabe o pior? É necessário que existam pessoas idiotas o suficiente para não enxergar o "imagens meramente ilustrativas". É preciso gente idiota pra enxergar e comprar mesmo assim. No geral, é preciso gente idiota.
E nesse quesito, o mundo supera as expectativas e a mágica acontece: temos mais gente idiota do que pessoas espertas. E os espertos carregam o mundo.
Há os idiotas espertos, mas esses não carregam nada. A não ser os próprios medos e o rabo entre as pernas.

Pondé, na verdade, transformou muitos dos meus pensamentos corriqueiros e cotidianos em teorias, sustentadas por nomes e obras acadêmicas e literárias. Foi como uma extensão das minhas indignações. O livro não foi mais fantástico por eu não ser o público alvo. Pondé escreve com uma certa raiva na pena, que eu compartilho. Mas a raiva dele direciona a escrita a atingir alguém com força. Como um soco. E pra mim, o livro não foi como um soco. Eu já estava socando o mundo moderno há tempos, o livro apenas me deu mais força. Gritou algumas palavras de incentivo à beirada do ringue. E a torcida esperava tudo de mim. O mundo nas costas.

Me parece ser um leitura necessária para a maior parte dos jovens adolescentes que usam a internet, as redes sociais. Para os que ainda tem esperança na faculdade, que acreditam no ensino médio. Para os vegetarianos, leitores do Tumblr e editoras de blogs de moda. Para os professores do ensino público e para os administradores dos grupos do whatsapp.

E ao longo da leitura, eu pensei em vários amigos e amigas. Ou "amigos e "amigas". Pensei na raiva que Pondé levaria até eles e no abandono que eles fariam da leitura. Na incoerência dos argumentos que eles tentariam usar comigo. Mas eu os diria que não me importo nem um pouco. Mas na minha cabeça, ficaria maquinando e chegaria à conclusão: "eu me importo. me importo até mais que eles. me importo o suficiente para gastar meu precioso tempo e o mais precioso ainda: o pensamento. e tudo isso para algo que eu não me importo? não, eu me importo sim. mas é mais fácil dizer que não. é como uma máscara. é o mesmo princípio da máscara que eles usam, mas a minha eu pensei sozinho. ou será que não?"

E aí entraria num ciclo vicioso. Somos todos iguais. Os que carregam o mundo e os que são idiotas. Estamos todos vinculados aos mesmo instintos, pois somos humanos, biologicamente falando, e estamos condicionados às mesmas influências. Por mais infinitas que elas possam parecer, elas são finitas. Estamos limitados por nossa própria grandeza. Tem um fim. Saca?
meio vesgo, pra somar com Sartre e fazer meu cérebro gozar com essa vesguice ideária.


Ponto final, antes que seja tarde.

sábado, 12 de abril de 2014

Com a morte na alma, de Jean-Paul Sartre [1949]


Eu tenho um bigode, Yuri.
Você deve estar achando que eu tenho algum tipo de fetiche com Sartre. Até agora foram 6 posts e 3 sobre o Frâncês vesguinho. Produtor do existencialismo e tudo mais. O cara é foda mesmo. No primeiro texto que aqui escrevi sobre o vesguinho e sua obra, disse que ele me ganhou por identificação. A princípio, dos personagens, mas à medida em que fui o conhecendo, identifiquei-me com o próprio também. Eu também sou vesgo. Meus olhos são corretamente alinhados, mas minha alma tem um tanto de vesguice.

E aí eu parti para ler o terceiro volume da trilogia de Sartre, já sabendo que ia me foder. E me fodi.

Tão livre que bota os peitos pra fora.

Liberdade, liberdade. Não tenho mais o que pensar sobre ela. Sartre parece que já pensou tudo, já escreveu tudo. Na base de metáforas, a filosofia dele está jogada nessa trilogia. E não é só Mathieu ou Brunet que está com a morte na alma. Todos nós. O fato de nós não podermos escolher se vamos nascer ou não, nos põe nesta condição: simplesmente temos que aceitar o fato da vida.
Alguns dirão que o suicídio é a forma escolher a outra opção à vida, mas não é. O suicídio é apenas a negação do que não pode ser negado. Assim como o pobre tem a capacidade de se endividar, o ser humano tem o poder de se matar. Mas ter o poder de se matar não implica ter o poder de morrer.
E essa prisão não é culpa do sistema capitalista, da cultura carnívora que herdamos ou mesmo da grandiosidade utópica do socialismo. É culpa da cegueira do universo, como diria Pondé (alvo de um texto futuro).

Gosto do Sartre porque ele não para a sua obra nela mesma. Enquanto ele fala sobre socialismo, parece estar falando sobre um turbilhão de coisas, que a uma primeira leitura parecem inexistentes. Gosto dele pela facilidade de falar de  tudo num nada. Numa linha de existência, ele condena os leitores à liberdade, assim como nas suas teorias. Confesso que estou com um frisson em aberto para ler "A náusea" e "O muro".



Quanto à forma que "Com a morte na alma" possui, tenho uma nota para comentar. Não é nada de original ou revolucionário para mim a forma que o livro é narrado ou escrito. A divisão segue a mesma dos dois primeiros livros, um capítulo para cada dia, nem sempre sendo dias seguidos. A mudança de visões não é tão cinematográfica quanto o segundo volume. A marca que fica registrada deste volume é o fato como o fim dos personagens aparece de forma sutil e dúbia. Ele dá um fim sem dar. Ninguém necessariamente morre, casa, vai lutar na fronte da Inglaterra ou sequer consegue reunir os membros do partido comunista. Ele dá uma resposta para tudo de uma forma tão leve, tão inexistente, que faz parecer que não houveram as mortes.

E talvez, nessa forma indiferente de dar os finais devidos para cada personagem, resida uma pitada de existencialismo: não importa muito como as coisas vão acontecer, no final, tudo vai dar merda. Todo mundo vai morrer. E mesmo que importe como as coisas acontecem, Sartre nos mostra que os finais estão presos nas nossas próprias limitações, nos buracos do enredo. Não há muitas alternativas.

Talvez mais que os outros livros da série, "Com a morte na alma" deixou fixa em minha memória cenas épicas. Cenas que eu lembro quase todos os dias, pois elas se instalaram no meu cotidiano. Um livro que ao final parece dar a resposta para todos os problemas de nossa vida besta. Mathieu assassinando seus demônios empunhado com o rifle que achou embaixo dos escombros. Com o sorriso banhado em sangue. Os pobres escravos do inferno presos no trem em direção à Alemanha. Os miseráveis momentos de dúvida e descrença na vida. E no final, perceber que não importava o destino. A vida continuaria a existir. O sol nasceria e tudo seria parte do mesmo filme, rodando no mesmo cinema velho. É como voltar pra casa no ônibus lotado: não importa o destino final, a vida vai continuar a mesma. Seguindo o sentido eterno de "pra frente" na linha temporal.

Há os homens que chegam cansados em casa, depois de jornadas de trabalho medonhas e dias recheados de vozes, reclamações e estresses dos mais diversos. Há o homens que não se importam nem mesmo com o fato de não se importar. Há aqueles que se perdem na cama e se acham na rua. Há aqueles que procuram resposta para todas as almas desnorteadas e para todos os problemas da vida besta que não podem ser resolvidos nas páginas dos livros. Salvo este último estará se deparar-se com esta trilogia. Porque todos os caminhos, são o caminho inevitável da liberdade. Tão inevitável que ele deixa de existir por sua condição outorgada.

Leiam Sartre. Se quiserem.


Pra quem quer saber mais sobre Sartre:

Documentário elaborado pelo próprio Sartre, onde ele senta e fala sobre sua vida durante 3 horas. Ainda não o assisti completo, pois quero ler mais da obra dele para me abstrair melhor das referências biográficas que ele joga no meio dos seus textos.
Sartre Por Ele Mesmo / Sartre par lui même (1976)

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Documentário produzido pela BBC sobre Sartre, abrangendo sua biografia e mesclando ela com sua obra literária e filosófica. Conta com depoimentos de amigos pessoais de Sartre e de estudiosos de sua obra. Esse eu vi todo e indico muito. É bastante didático e simples. Não é tão pesado quanto o que foi citado acima. É bem fiel e muito bem produzido. Com direito até pequenas montagens cinematográficas de trechos das obras de Sartre.

BBC - Humano, Demasiado Humano - Jean-Paul Sartre - O Caminho Para a Liberdade


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Entrevista com o professor Franklin Leopoldo, da USP, onde ele fala sobre a trilogia "Os caminhos da liberdade". Conteúdo bem específico que vai dar um panorama mais acadêmico para algumas coisas que eu disse em meus textos sobre a trilogia. Para quem leu, é bastante reflexiva a entrevista, pois dá conceitos e estruturas filosóficas as quais Sartre utilizou para escrever a série.

Literatura Fundamental 15 - Trilogia Os caminhos da liberdade - Franklin Leopoldo e Silva

Até a próxima, amorecos.