É bem verdade que tenho um acervo grande de textos engavetados, os quais estão sempre na inércia da minha falta de vontade de lembrar das coisas. A vontade de esquecer já é lembrar. Vez ou outra abro a gaveta e vou passando de um em um. Algumas boas geniais e outras boas ideias derrotadas. Há um nome de uma mulher muitas vezes repetido lá. Ao que me lembro, eu me enrolei com ela numa espécie de briga de gatos e acabei no chão. Como já disse, há nessa gaveta um equilíbrio: coisas boas e ruins. E tudo que tá lá tem uma característica em comum: me faz rir.
E num mundo de timelines de facebook adubadas com o ego medonho alheio, vídeos virais que de tão engraçados não fazem sentido e imagens tão efêmeras quanto o piscar de olhos do cachorro, chega a ser um pouco estranho rir de si mesmo.
Sou como um homem numa praia, cansado. Tocando os grãos de areia e sentindo que há uma energia no mundo que liga todas as coisas. Um homem que há poucos instantes se debatia, esbarrando no desespero da falta de ar e na angústia de não poder realizar os sonhos que se acumulam na caderneta de poupança. Um homem que se engasga com a água e com a vida ao mesmo tempo. E a salvo na areia, não acredita ainda que vai conseguir tudo o que planeja antes de dormir. Mas ele se sente vivo. Se sente apto a não desistir. Olhando para o mar, que quase o engoliu, ele se sente como um pedaço do mundo. Mais uma partícula do espaço tempo que não somada a tudo, gera um todo. E um todo repleto de caminhos.
Não tenho me importado muito se as promessas são cumpridas ou não, se as apostas são ganhas ou não. Mas não é um tanto - efemeramente - belo o fato de que eu posso apostar e prometer?
Olhar pro começo e ver que já se saiu do lugar.
Há dias em que o gosto levemente amargo do álcool não é sentido pelo nosso paladar. Há dias em que o álcool na boca é doce. Tem gosto de um sentimento estranho, o qual eu não sei explicar. Um gosto que entra em contato com meu cérebro e diz que há um ponto no universo que nada disso tem valor, mas que ao mesmo
tempo, nesse mesmo ponto, tudo isso tem o maior valor do mundo: ser único.
E há dias incrivelmente surreais em que o gosto do álcool me faz acordar. Mas não há álcool. E é aí que está a mágica. Não há álcool. Apenas o sentimento do mundo.
E, na boemia de minha nóia, a gorçonete parece ter uma face. Uma máscara perfeita de si mesma. E eu não consigo tirá-la de seu rosto. Vou perguntar depois onde ela comprou essa máscara. Como eu queria ter um carnaval só pra mim e então ir na loja que ela indicou, comprar uma máscara igual.
Como eu seria lúcido.
fiquem com esse som que eu já não se é meu ou dele.