terça-feira, 29 de julho de 2014

dois minutos pra daqui a pouco

   É bem verdade que tenho um acervo grande de textos engavetados, os quais estão sempre na inércia da minha falta de vontade de lembrar das coisas. A vontade de esquecer já é lembrar. Vez ou outra abro a gaveta e vou passando de um em um. Algumas boas geniais e outras boas ideias derrotadas. Há um nome de uma mulher muitas vezes repetido lá. Ao que me lembro, eu me enrolei com ela numa espécie de briga de gatos e acabei no chão. Como já disse, há nessa gaveta um equilíbrio: coisas boas e ruins. E tudo que tá lá tem uma característica em comum: me faz rir.
   E num mundo de timelines de facebook adubadas com o ego medonho alheio, vídeos virais que de tão engraçados não fazem sentido e imagens tão efêmeras quanto o piscar de olhos do cachorro, chega a ser um pouco estranho rir de si mesmo.
Sou como um homem numa praia, cansado. Tocando os grãos de areia e sentindo que há uma energia no mundo que liga todas as coisas. Um homem que há poucos instantes se debatia, esbarrando no desespero da falta de ar e na angústia de não poder realizar os sonhos que se acumulam na caderneta de poupança. Um homem que se engasga com a água e com a vida ao mesmo tempo. E a salvo na areia, não acredita ainda que vai conseguir tudo o que planeja antes de dormir. Mas ele se sente vivo. Se sente apto a não desistir. Olhando para o mar, que quase o engoliu, ele se sente como um pedaço do mundo. Mais uma partícula do espaço tempo que não somada a tudo, gera um todo. E um todo repleto de caminhos.
   Não tenho me importado muito se as promessas são cumpridas ou não, se as apostas são ganhas ou não. Mas não é um tanto - efemeramente - belo o fato de que eu posso apostar e prometer?
   Olhar pro começo e ver que já se saiu do lugar.
   Há dias em que o gosto levemente amargo do álcool não é sentido pelo nosso paladar. Há dias em que o álcool na boca é doce. Tem gosto de um sentimento estranho, o qual eu não sei explicar. Um gosto que entra em contato com meu cérebro e diz que há um ponto no universo que nada disso tem valor, mas que ao mesmo
tempo, nesse mesmo ponto, tudo isso tem o maior valor do mundo: ser único.
   E há dias incrivelmente surreais em que o gosto do álcool me faz acordar. Mas não há álcool. E é aí que está a mágica. Não há álcool. Apenas o sentimento do mundo.
   E, na boemia de minha nóia, a gorçonete parece ter uma face. Uma máscara perfeita de si mesma. E eu não consigo tirá-la de seu rosto. Vou perguntar depois onde ela comprou essa máscara. Como eu queria ter um carnaval só pra mim e então ir na loja que ela indicou, comprar uma máscara igual.
Como eu seria lúcido.
 
fiquem com esse som que eu já não se é meu ou dele.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rabiscos


 Nesse fim de segunda-feira - segunda chuvosa e, quem sabe, comemorada no sertão - acabo percebendo que o dia passou rápido e encharcado dessa minha preguiça que agradavelmente me acompanha nesses constantes dias mortos. Continuo com essa mania retrô de escrever no papel antes do virtual ... Nesse curto espaço de tempo me vejo "bombardeada" de informações. Morre Suassuna, Ubaldo e Rubem. Israel deita e rola em corpos palestinos e, de brinde, zoa o Brasil - novo "Tyrion" mundial - . Aviões são alvos de mísseis, holandeses choram. E eu, "mariazinha", sendo espiritualizada na paraíba. Palestras visando reflexões para uma vida voltada ao bem próprio e comum, oficinas e mais palestras. Orações, confissões pessoais, emoções à flor da pele. Arrepios. Choros. Deus. Nesse contraste, volto ao ponto de partida. Meu quarto, dia nublado, gatinha de estimação e aquela xícara morna de café. Artigos, amores, desejos, papos curtos, desvariação ... Penso como pode ser a vida sem lastimação.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Unhas

Minhas unhas estão enormes, tão grandes pra caramba. Tava percebendo isso enquanto fazia uma leitura chata, daquelas bem sacais, sabe? As palavras lidas já não codificavam nada na minha cabeça e eu estava imerso nas entrelinhas do meu pensamento. Puta que pariu, essas unhas tão grandes pra caralho! Se fosse grande por ser grande, tudo bem. Mas não é simples assim. Elas estão sujas e afiadas, andam machucando muita gente. Gente que eu não gostaria de arranhar ou de assustar com esse aspecto tenebroso. Acho que a sujeira vai aumentando toda vez que arranho alguém. Mas é sem querer, tá ligado? Eu não quero ferir ninguém, mas sempre acaba acontecendo. Porra, essas unhas realmente estão enormes. Às vezes eu tento esquecer disso. Mas toda vez que esqueço, acabo por arranhar alguém e me lembro dessas coisas monstras que tenho nos dedos. Se eu já pensei em cortá-las? É óbvio. Mas não é uma tarefa simples, elas voltam a crescer, a acumular sujeira; também há os relatos alheios e as diversas histórias tristes que os outros contam a respeito das malditas unhas. 
Pra ser totalmente sincero, a ideia de cortar minhas mãos me parece mais atraente. E mais fácil pra acabar com esses problemas de maneira definitiva. Quero uma folga pra mim e pros outros. Quero fugir sozinho pra bem longe ou que os outros fujam juntos, pra eu poder ficar “enfim só”. Não quero ninguém pra me lembrar do que eu sou; ninguém pra falar das minhas unhas. Quero encontrar refúgio pras minhas mãos. Bolsos, luvas, outras mãos, sei lá... 

domingo, 13 de julho de 2014

Nem todas as vezes

promessas e apostas. não cumpridas as primeiras e perdidas as segundas.
Com os olhos ainda embotados de cimento e sono, achar a faca por entre os talheres e se resignar. Observar a gordura branca que se funde com a carne branca. E o boi. O boi ali na minha frente. Houve um tempo em minha infância em que eu acreditava. Houve um tempo em que eu não comia carne. Eu até acreditava. Acreditava. Eu rezava à noite, enquanto os outros dormiam. E eu imaginava o dia em que ficaria sozinho neste mundo. Mas eu ainda assim acreditava. Acreditava em tudo. Na areia que escorria por entre minhas mãos enquanto observava o mar. Nas coisas que aprendia na escola. Nos cartazes que lia no centro da cidade. Todas as coisas pareciam correr para o mesmo canto.
E quem imaginaria que dez anos depois eu me sentiria mais vivo cortando bifes de uma peça de carne de três quilos?
A faca vazia de sentido escorrendo pelo sangue escondido por entre os sulcos visíveis a olho nu. Nada poderia me abalar.
Essa tosse seca que me incomoda há duas semanas não poderia me incomodar jamais. O medo ainda infantil de que talvez seja uma pneumonia ou algo parecido, mesmo que eu não saiba se os sintomas condizem. O fato de que hoje no almoço não vai ter suco. Dali há alguns minutos irei pegar o copo de vidro meticulosamente planejado pela ciência do design e despejar algumas mls de água para empurrar a espécie de macarronada. A falta de tempero completo no armário e a ausência da minha mãe. Nada me abala mais. Há tempos que não há tempero nem mãe. Há tempos que a ciência do design vai ganhando espaço na classe média baixa. Há tempos que a classe média é composta de pessoas tristes.
Eu poderia não ter enrolado tanto para falar dos teus olhos. Esses meio imaculados, meio protegidos por uma aura divina que não cansa de me proteger. Mas tudo está ligado, como diz você. O fato de eu estar cortando bifes para 3 pessoas e você ser vegetariana. O fato de que eu odeio médicos e sua hipocondria. O fato de eu não acreditar mais nem na areia da praia que supostamente se esvai das minhas mãos enquanto o sol se põe e você acreditar que o barulho do mar é a coisa mais tranquilizante do universo.
Não, não acredito mais no amor. Não acredito que um homem possa amar uma mulher e que estes possam viver felizes para sempre. Mas no fim das contas, acho que algo parecido com isso entre eu e você não duraria muito. Acho que você deve saber masturbar um homem muito bem, apesar de não saber ainda deste fato. Acho que no momento peculiar em que o rapaz gozar, você meterá a boca lá e engolirá tudo com a sede de um sobrevivente de uma catástrofe natural. Mas não desejo ser esse cara. Hahaha. Acho que você daria um apelido para o meu pênis.
Você, que odeia minhas contradições, não acreditaria se eu te dissesse essas coisas. Nem acompanharia a falta de padrão dos meus pensamentos. Mas seus olhos não deixam de ser o par de conjuntos de células e sistemas biológicos mais bonitos que eu já vi.
A diferença entre mim e um homem apaixonado é que ele está disposto a viver por sua paixão. E por você eu estou disposto a morrer. Ou até a encontrar um significado para a nossa existência que te convença a suicidar-se comigo. Mas se eu descobrisse o sentido disso tudo, ou mesmo tivesse uma prova cabal de que não faz sentido, se deus chegasse em meu ouvido e dissesse que tudo isso que a gente faz não tem significado nenhum, eu não te diria. O sorriso que tua fé te dá eu jamais poderia dar. Nem ao menos pra mim mesmo. E eu acho que nunca terei isso. Nem a fé nem o sorriso.

sei lá