quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Texto Invisível do João: "A única pessoa que amei"

"Foi muito estranho quando eu abri os olhos. Era um campo vastíssimo com gramíneas esverdeadas como a cor daquele sorvete que nunca provei. Não sabia o que estava fazendo por ali; nem sabia que lugar era aquele.

Foi quando o vi. A única pessoa que amei na vida. Estava irreconhecível, com o cabelo enorme, tipo o do Jimmy Hendrix, o rosto era apenas um borrão na minha memória e tinha um aspecto sereno que nunca tinha visto nele antes. Não lembro de muita coisa, fiquei muito nervoso; só lembro que ele me disse que não era bom estar vivo e, então, estendeu seu dedo indicador, apontou pra algum lugar. Falou: "- É ali que a sua mãe dorme".

Era pesado, era difícil olhar pra ele de novo depois de tanto tempo, tinha tanta novidade pra contar, tanta saudade pra matar...

Quando criei coragem para falar algo, o fortíssimo vento da vida real soprou minha lembrança vaga como se fosse uma escultura de areia. Minhas lágrimas molhavam meu travesseiro, porque desciam incessantemente ao lembrar que eu devia ter dito que o amava antes que aquela lâmina fizesse seu sulco em seus pulsos morenos. Mas agora é bastante tarde. Eu só quero fugir de vocês, colocar meus fones, dar play novamente em Stairway to Heaven, voltar pra minha ca(l)ma e dormir."

sábado, 9 de agosto de 2014

senta o dedo

7 de setembro de mil novecentos e noventa e seis.
tupac amaru shakur morria. dois meses depois eu vinha ao mundo, besuntado em líquidos uterinos e placentários. onde eu estou hoje? onde tupac está?
duas perguntas sem resposta. mas enquanto o brasil preparava seus desfiles de independência, glorificados pelos cavalos e seus cocôs, tupac vivia suas últimas horas. não sei se de forma tão poética quanto imagino, pois não entendo de fusos e nem sei direito o que é gmt. mas ainda assim, nada faz sentido. tudo que ele viveu, pensou e maquinou para que desse certo foi levado embora naquela noite de setembro. pelo misticismo, temos virgens e libras em setembro. pela minha consciência quase nula neste mundo, não temos muita coisa a não ser a nossa própria cabeça, corpo e ideias.
dezoito anos na cara. escrevendo com letras minúsculas como um ato de desespero em busca de uma identidade. "João, aquele cara que escrevia com letras minúsculas". "mas sempre que ele escrevia o nome dele, era com letras maiúsculas. talvez isso demonstre um fio da psycho dele que se achava superior ao mundo por n motivos" "não sei. talvez. tinha o fato de ele quase sempre escrever data e números por extenso" "talvez demonstre uma aversão à quantificação das coisas, talvez uma crítica à nossa sociedade construída sob números e suas manipulações" "vai ver era só o jeito dele, sem nenhuma mensagem por trás de tudo aquilo ou qualquer tipo de ideologia maior. vai ver ele só queria fazer as coisas do jeito dele pra se sentir um pouco mais livre do peso que o mundo tem" "dizem que ele gostou de uma mulher uma vez" "não sei".
então desolados, olham pela janela e pensam no meu rosto.
o que faria tupac shakur no meu lugar?
vínculado à minha realidade, acho que ele seria só mais um. acho que todo mundo necessita dos cavalos de tróia e das agonias que possuem. porque talvez o sentido da vida seja apenas ser um ponto único que é epicentro de tudo que não existe.

domingo, 3 de agosto de 2014

Refúgio


mesclas de sentimentos podem desatar como embaraçar misteriosos "nós" na garganta, nó que desencadeia sensações de origens destrutivas. Pode-se amar e odiar no mesmo instante, mas o ódio sempre se faz constante em maior proporção. O ódio nada mais é do que um amor ferido, espancado, judiado sem precisar usar-se da força física para tal. Palavras fazem sangrar, um homocídio a cada sílaba. Uma hemorragia interna a cada segundo, é o estado de quase morte, sendo este o sabor da vida usufruída da beira mais amarga, mais ingrata. Livros de autoajuda não passam de sanguessugas sem utilidades, porque palavras, meu caro, não pausam hemorragias. Nada mais são do que uma anestesia diária, sem conter a dor, apenas à manipula. Quando a mente definha, o corpo padece. Derramar-se em linhas ... Derramar-se em linhas ... E os pensamentos é a manivela para a vida ou aos cacos que restam dela. É o veneno e a libertação. Deus e o diabo andam de mãos dadas em suas ruelas. Em cada refúgio. E a lágrima de gosto ameno ganha a dramaticidade de hollywood sem encenação ... Há fragilidade é o que se tem de mais íntimo, típico de fundo do baú. Presente em cada abrir dos olhos. Entorpecer em delírios e envolver-se neles é a dose de ânimo que move as pernas, no fim das contas ...