quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Texto Invisível do João: "A única pessoa que amei"

"Foi muito estranho quando eu abri os olhos. Era um campo vastíssimo com gramíneas esverdeadas como a cor daquele sorvete que nunca provei. Não sabia o que estava fazendo por ali; nem sabia que lugar era aquele.

Foi quando o vi. A única pessoa que amei na vida. Estava irreconhecível, com o cabelo enorme, tipo o do Jimmy Hendrix, o rosto era apenas um borrão na minha memória e tinha um aspecto sereno que nunca tinha visto nele antes. Não lembro de muita coisa, fiquei muito nervoso; só lembro que ele me disse que não era bom estar vivo e, então, estendeu seu dedo indicador, apontou pra algum lugar. Falou: "- É ali que a sua mãe dorme".

Era pesado, era difícil olhar pra ele de novo depois de tanto tempo, tinha tanta novidade pra contar, tanta saudade pra matar...

Quando criei coragem para falar algo, o fortíssimo vento da vida real soprou minha lembrança vaga como se fosse uma escultura de areia. Minhas lágrimas molhavam meu travesseiro, porque desciam incessantemente ao lembrar que eu devia ter dito que o amava antes que aquela lâmina fizesse seu sulco em seus pulsos morenos. Mas agora é bastante tarde. Eu só quero fugir de vocês, colocar meus fones, dar play novamente em Stairway to Heaven, voltar pra minha ca(l)ma e dormir."

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