quarta-feira, 25 de junho de 2014

sobre a frustração da vitória

garoa
O instinto do ser humano é engraçado. Eu nunca fui bom esportista, mas agora entendo de onde os desfavorecidos tiram a força. Agora entendo de onde a Bósnia tirou tanta força pra jogar contra a Argentina. De onde a Costa do Marfim tira motivação pra entrar em campo.
Por mais que o mundo nos ensine o otimismo, eu observo muita coisa com o pensamento de "isso não vai dar certo". Desde o seminário do semestre passado que eu tive que inventar uma desculpa pra não fazer até os próprios protestos do "Gigante Acordado". Durante as passeatas e etc, o Brasil estava dividido em dois: aqueles que queriam ir às ruas e àqueles os que iam contra o movimento. Eu estava deitado na minha cama pensando "nada vai mudar". E nada mudou. E não estou defendendo quem era contra os protestos. Eles também não mudaram nada. Sabe, é esse o problema: todo mundo acha que pode mudar, mas ninguém percebe a natureza é a força mais forte. A gente só tá aqui porque o acaso faz com que as condições sejam propícias. Assim como a criação das nossas leis, a eleição dos nossos políticos e tudo mais. O problema de verdade, é que a gente é educado pelo medo.
Desde criança, nós aprendemos, por exemplo, que não devemos ir para a rua porque o homem do saco vai nos pegar, ou porque o bêbado vai bater na gente. Na maioria das vezes, nós não temos acesso aos valores morais ou lógicos que transcendem o "não vai pra rua, moleque". E quando crescemos, essa metodologia de ensino não vai embora. Na escola, por exemplo, aprendemos o conteúdo e tiramos notas boas - ou apenas suficientes para passar - por simplesmente termos medo. Medo de decepcionarmos nossos pais, medo do estigma de ser um reprovado ou mesmo medo de passar por todo o terror de mais um ano letivo em nossas vidas.
Quando eu comecei a perceber essa lógica, eu achei que chegaria um momento em que todo mundo passaria a não ter mais medo e a seguir ideais e fazer coisas por simples e pura vontade. Mas não. Isso só acontece se as pessoas entenderem essa lógica e é aí que mora a desgraça: elas estão presas pelo medo. 
E as pessoas dos protestos de 20 de julho, das passeatas anticopa e os revolucionários das redes sociais perderam de repente o medo. Mas eles perderam o medo de só um dos lados. Eles perderam o medo de que as coisas continuem indo para o lado que estão indo e cheguem no fundo do poço, mas não perderam o medo de que a superfície do poço seja algo mais terrível que a metade dele.
Quando eu percebi isso, no ensino médio, eu achei que quando eu entrasse na faculdade ia ser diferente. Agora que estou na faculdade, percebo o quão complexo esse problema é, pois meus professores educam por medo, meus colegas de turma estão o tempo todo se borrando nas calças e até mesmo a didática que percorre os corredores tem medo.
Foi então que eu tive uma ideia. A grandiosa ideia de escrever um trabalho acadêmico sobre toda essa coisa mas aí eu percebi que a estrutura da ciência também tem medo. Quando alguém diz que tem um problema, essa pessoa tem que ir lá e mostrar uma solução para o problema, segundo a ciência. Mas eu não tenho uma solução para a forma com que a educação é construída. Eu, mísero aluno de uma licenciatura querendo derrubar séculos de estudos pedagógicos...
E então eu me ponho no meu lugar. Pego os ônibus lotados, sento na cadeira longe do ar condicionado para não estimular minha rinite e observo o mundo, derrotado. Percebo todos os homens terrivelmente amedrontados. E internamente, vejo seus rostos, tristes, pois não sabem o que estão fazendo aqui. Todos com medo. Medo de ter medo. E depois, eu também percebo que talvez, se não fosse assim, seria pior. Você consegue perceber que nada nesse mundo tem garantia, que nenhum barco nesse mundo tem um cais para se amarrar?
E por mais que eu entenda que nada tem garantia, eu continuo acreditando que algo vai valer à pena. Só não sei quando ou onde ou como. É a mesma motivação que fez a Bósnia simplesmente não sair de campo e voltar para casa e fazer suas orações diárias à Alá.
No fim das contas eu estou preso também, pois tenho medo de ter medo e também de não ter medo nenhum. Quem diz que não tem medo, na verdade tem fobia de medos mas não sabe.

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