sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pensamento meigo e abusado.

bad romance > aquarela do brasil
Daí tem um dia que a gente percebe que tá vinculado a uma realidade tão monótona e repetitiva que a gente precisa escapar dela. Nem todo mundo percebe realmente isso, mas todo mundo, em dado momento da vida, começa a querer escapar da verdade, das coisas reais. E esse momento, na maioria das vezes é o mesmo momento em que a gente se põe no nosso lugar de ser pensante, racional, proativo e de individuo-que-vai-mudar-o-mundo e se vê na obrigação de fazer algo nesse mundo louco de meu deus.
(Não vou discutir moral desses pensamentos nem o sentido de todas essas coisas, pois meu existencialismo pessimista só tem me degradado nos últimos tempos. Não que essa degradação seja ruim também, mas não vem ao caso. Só quero falar sobre a humanidade, generalizando o quanto for possível para descarregar um pouco das angústias que a masturbação existencialista me proporciona)
Daí a gente cresce mais um pouco e se vê agregando valor à nossa forma de fugir da realidade e desprezando cada vez mais a dos outros, quando é diferente da nossa, é claro. E chega um momento em que você compra um óculos de aro grosso, compra uns livros e acha que o mundo está aos seus pés. E para implementar com mais força essa ideia, o mundo aplaude seus óculos de aros grossos e os livros que você comprou e leu e discute com seus amigos e posta citações nas redes sociais. Mas isso não é nada.
Eu sou um tanto viciado em alguns jogos onlines, ouço com frequência Anitta e Lady GaGa e admiro li a coletânea "23 livros de poesia de Drummond de Andrade". Isso não faz de mim especial. Este só sou eu atendendo aos desejos que sinto e só. Todas essas coisas, por mais que elas não tenham nada em comum, elas continuam tendo algo em comum (hã?): elas são fugas da realidade. Elas se utilizam de objetos do mundo real para criar realidades paralelas as quais nós podemos interagir e trazer como complementos para nossa vida, seja através de análises ideológicas, metáforas ou expressão artísticas (inclua aqui a criação de mais realidades paralelas, como esse blog ou os artigos que Thalita lê).
Até então, o jogo online e "Dom Casmurro", de Machado de Assis  para mim tem a mesma função. E há algum tempo percebi que para o mundo não é bem assim. E eu, como um bom ignóbil no seu mundo invisível, desconstruirei isso com todo o prazer.

Há alguns anos, percebi que eu tenho o mesmo peso no mundo que um Professor Doutor em Línguas Estrangeiras. E não estou desmerecendo o Doutorado dele, o Mestrado ou todos os anos que ele passou estudando na academia, só estou dizendo que eu também sou um ser humano e que a única coisa que me diferencia dele é o que a teoria da identidade de Kant prega: ele apenas tem uma visão de mundo diferente da minha. Nem melhor nem pior, apenas diferente (parece slogan de alguma campanha de marketing fula).
as inimiga chora
Desde que eu comecei a pe
nsar dessa forma, eu digamos que alcancei o nirvana do senso crítico. A diferença entre mim e o Professor Doutor em Línguas Estrangeiras (vamos chamá-lo agora de apenas PD) é que o senso crítico dele é focado em um ponto do mundo. Ele lê muito, sabe das teorias linguísticas pré-modernistas da Rússia de Lênin, sabe dos trejeitos literários dos contos pós-modernistas de Tchékov e tudo mais. O PD sabe até mesmo que não se deve usar mais hífens como os que eu usei algumas orações atrás. E eu, o simples Neto, licenciando de informática, aluno do instituto federal não sei de metade dessas coisas que ele sabe. Mas eu consigo extrair sentimentos e pensamentos do hit "Meiga e Abusada", de Anitta. Consigo equiparar Lady GaGa e Drummond sem me sentir pretensioso, sob o olhar mais simples da coisa. E não estou dizendo que o PD não tem capacidade de fazer isso, pelo contrário. Ele tem até mesmo mais bases para fazer isso do que eu, dados os seus conhecimentos técnicos sobre linguística e literatura que poderiam ser aplicados de forma científica sobre as letras de Anitta. Mas ele não foi educado para isso. E eu não entendo o porque, já que todos os supostos objetos de estudo científico que eu citei acima são, independente de outras classificações, fugas da realidade.

E outra: o PD foi educado para não perceber certas coisas. Foi educado de forma que sair da "Linha imaginária de crítica filosófica" parece perda de tempo. E eu me pergunto, nos dias de hoje, porque Anitta não figura entre os grandes nomes da arte brasileira, já que ela produz uma obra, executa a mesma e algumas pessoas gostam e outras não? Entendem que não há nada que diferencie ela de Vinícius de Morais, em termos gerais?
E porque o PD não consegue perceber isso? Porque nossa educação é baseada no medo. E ele tem medo de perceber que tá errado e de se sentir obrigado a virar contra um mar de acadêmicos barbudos, que teorizam sobre a cor do vestido que a personagem usava enquanto descia as escadas, descrito em 3 páginas extremamente monótonas de "Senhora", de José de Alencar.

"Esse tal de Neto... kkk Só fala bosta" DRUMMOND

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