segunda-feira, 12 de maio de 2014

O azarão, de Marcus Zuzak

   Porra.
   Olhar pra tua foto e pensar "hoje não" é o melhor sentimento do mundo. E pensar em você como uma estranha, como parte de um passado que eu agora consigo dizer sorrindo que já passou.
Baby, ontem a noite foi louca. E quem disse que o álcool não ajuda, estava errado. Acordar pela manhã com um gosto amargo posto pela mistura de cerveja, cana, lasanha e outras coisas as quais minha memória não foi agraciada, olhar a foto tua do jantar de dia das mães e pensar que todo o tempo que eu perdi com você foi realmente perdido. Chega a ser engraçada a minha idiotice.
   Pra quantos caras você já deu depois de mim? Você me ensinou. Meu livro favorito foi um presente seu. Meu escritor favorito foi você quem me apresentou. Mas agora, às 7 da manhã, depois de uma noite terrivelmente feliz, eu entendo que não há nada além de conversas, sorrisos, lágrimas e algumas batatas fritas. Mas sabe a notícia ruim, baby? Batata frita eu posso comer com qualquer um.
   Todo mundo tem um sorriso pra me oferecer. A noite de ontem foi a prova disso. Mesmo que os sorrisos estivessem sendo alterados, ou mesmo gerados pelo álcool, eu tive sorrisos. E as pessoas estavam felizes por eu estar feliz. Todo mundo tem mágoas pra compartilhar. Baby, o mundo é tão grande, porque desperdiçá-lo pensando em vossa senhoria?
   Tenho a minha falta de talento, a falta de coordenação motora, meus amigos também derrotados, a falta de um lugar seguro para não me machucar nesse mundo louco de meu deus, o fato de eu ser uma peça que não tem encaixe no quebra cabeças da vida, meus erros propositais para causar confusão, o amor adverso da minha família semidesestruturada, a angústia dos exercícios de álgebra linear e as cogitações de futuros incertos. Tenho tudo isso para sofrer e me fazer mal. Porque eu sofreria por você mesmo?
   E Markus Zusak, o que tem com isso?
   Ele faz os personagens dele serem grandiosos, mas grandiosos de uma forma real. Não há grandiosos monstros ou super heróis. Pessoas normais que não tem nada de extraordinário, mas que entenderam a lógica dos erros da vida e perceberam que ser um erro de  vez em quando é um acerto.
   Zusak é o cara que dilacera um boi com uma colher de chá de farinha de trigo (?).
   Ele vai no âmago da derrota e mostra que há uma vitória lá.
   Ele mostrou que Ed podia mudar o mundo sendo um motorista de taxi, mostrou que Liesel pode entender que o valor da vida é o valor das histórias que temos pra contar, mostrou a Rube qual é a luta que realmente importa. E mostrará a Clay que a ponte nunca ruirá se ele não quiser.
   "O azarão" é um livro que não tem um clímax de tirar o fôlego, não tem uma cena de ação fortíssima nem tem lances de investigação por trás de um crime. É uma obra subestimada por não possuir nada demais, pois o ser humano tem essa tendência a buscar por coisas extraordinárias e cheias de complexidade. E mesmo que haja quem diga que a beleza da vida está nas pequenas coisas, ainda preferem ler "O símbolo perdido" ou "O Alquimista" do que arriscar suas grandiosidades intelectuais em uma perda de tempo literária que seria "O azarão".
   Em um vídeo que perambula por esse universo louco que se chama internet, encontramos Gustavo Magnani, um escritor e estudioso da área falando uma coisa interessante. O vídeo em si fala sobre a grandiosa polêmica perdida por entre os corredores das faculdades e universidades de humanas, berço dos comunistas burgueses, mas o que interessa para meu texto é apenas um trecho em que Gustavo fala que no fim das contas, o que importa mesmo são os sentimentos que as obras despertam em cada um de nós, o que elas nos fazem pensar e fazer. Para ele, não importa muito o que a crítica ou a academia no geral tem a dizer. E eu concordo com ele. Mas o ser humano tem uma capacidade de querer ser idiota que é impossível de ser igualada. E "O azarão" fala também disso.
   O fato de não termos nada de mirabolante na história nos faz pensar sobre o quão erradas estão as pessoas certas. O quão certas estão as pessoas erradas, o quão vazias estão as totalidades e todas as outras variações que essa prerrogativa pode levar.
   "O azarão" conta a história de um rapaz comum, que ama e que pensa no futuro. Um rapaz que sofre por amores não correspondido. Mas que vence a luta da vida com suas próprias técnicas. É o que eu faço, basicamente.

Gênio.

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